O livro Eu mais velha – cura, fé e ancestralidade, de Bianca Sevciuc e Lais Araújo, sobre saberes tradicionais de sete curandeiras, benzedeiras, parteiras e raizeiras do litoral do Paraná está disponível em pré-venda. O lançamento será no dia 27 de março.
A obra mapeia conhecimentos tradicionais da cultura caiçara e dos Guaranis M’bya por meio de das senhoras que compartilharam saberes sobre benzimentos, orações, simpatias, batismo, defumações, dietas, remédios.
O valor arrecadado será revertido para as senhoras participantes do projeto, selecionado pelo “Rumos Itaú Cultural 2017-2018”. Os 130 primeiros exemplares custam R$ 60 e podem ser adquiridos em https://pag.ae/7WVEhRmG8. Depois, o preço passa para R$ 80.
A equipe do projeto realiza live no perfil @eumaisvelha nos dias 17 e 24 de março, às 20h, Na primeira delas, haverá participação de Diego Zanotti, idealizador do projeto Cine Invisível e na segunda, Isadora Carneiro, do projeto Mulheres da Terra, integra a conversa que deve discorrer, respectivamente, acerca da sabedoria sutil das anciãs e “a sabedoria do passado, que pode curar o futuro”.
No dia 27, (sábado), às 18h, ocorre o lançamento do livro com apresentação de fotos e depoimentos de algumas das senhoras participantes. A mediação é da jornalista Silvia Valim. O encontro é no Zoom, com inscrições gratuitas via Sympla. A transmissão também é feita pelo Youtube e os links estarão disponíveis no Instagram do projeto.
O Projeto
As autoras, Bianca e Laís, circularam por quase dois anos e por dezenas de comunidades pelo litoral do Paraná, na região do Parque Nacional do Superagui e na Área de Proteção Ambiental de Guaraqueçaba. Encontraram, em seis dessas comunidades – Barbados, Vila das Peças, Vila de Superagui, Saco do Morro, Saco da Rita e Aldeia Kuaray Guata Porã que compartilharam saberes sobre benzimentos, orações, simpatias, batismo, defumações, dietas, remédios: Alzira Coelho Pereira (de 83 anos, já falecida), Maria Squenine Castanho (81), Leontina da Silva (77), Cleonice Fagundes (75), Nilse Squenine Maia (64), Cesarina Maria Malaquias Lopes (63) e Joventina da Silva Warangdy (58). As idades são da ocasião das entrevistas.
“Cada uma das sete curandeiras escolhidas tem uma especificidade. Uma trata de picadas de animais peçonhentos (com plantas, pó de ostra e banha de animais, além de outros elementos da natureza); outra guarda conhecimentos para fazer partos e/ou ainda o uso de ervas, por exemplo. Elas foram selecionadas, entre tantas mapeadas pelo Renato, levando-se em conta essa diversidade de saberes”, explica Bianca. “Aceitaram participar do projeto pelo fato de a nossa equipe ser formada por jovens e por elas terem interesse em passar esses conhecimentos adiante, já que as novas gerações das comunidades estão num processo de descrença disso. Preferem tomar medicação industrializada, fazer parto em hospital etc. A própria tecnologia tira o interesse dessas gerações.”
Bianca acrescenta que, com o processo de evangelização ocorrido nos últimos anos na região do parque, algumas dessas senhoras acabam não se dizendo mais curandeiras e /ou benzedeiras, uma vez que esses “termos” e a “profissão” não são bem-vistos. “Por isso esse trabalho de valorização e resgate é tão importante”, fala.
Ela também explica que, para essas mulheres, o processo de cura depende, na verdade, de cada um e vem de dentro para fora, independentemente de qualquer medicamento, seja ele natural ou industrializado. “Elas não falam que curam as pessoas, mas sim que ensinam a fazer remédios. Isso está relacionado à sabedoria de que não se pode curar ninguém de fato. Esse ‘alguém cura a si mesmo ao acessar o potencial de auto cura inerente a todos nós. O acesso a esse potencial ocorre quando a fé é despertada.”
A cultura caiçara e dos Guaranis M’bya passa por uma série de desafios. Muitos dos filhos e netos dessas pessoas nunca viram uma roça, não bailam mais fandango como antes e estranham os remédios naturais.
Entretanto, os conhecimentos ancestrais existentes nas ilhas ainda estão vivos. Por isso a importância de relembrar como os mais velhos realizavam a cura nessa região e refletir sobre a relação dessas tecnologias ancestrais de cura e a contemporaneidade.
Com a intenção de estimular a partilha e o intercâmbio de gerações entre as senhoras escolhidas e os jovens das suas famílias, o projeto criou quintais medicinais próximos às suas casas, que foram construídos ao longo dos meses, para serem locais de afirmação destes conhecimentos.
Também, para que as plantas utilizadas estivessem mais próximas, visto que algumas delas, já com idade avançada, possuem certas limitações na busca por remédios na mata. Recorrer à ancestralidade, permite lembrar que a cura está na natureza.
“Eu mais velha – cura, fé e ancestralidade” Instagram: @eumaisvelha Facebook: https://www.facebook.com/eumaisvelha