A história dos charutos que ficaram 134 anos no fundo do mar é fascinante, envolvendo um naufrágio trágico, uma descoberta inesperada e um delicado processo de recuperação. Tudo começou em 1857, quando o navio a vapor americano S.S. Central America, que transportava passageiros de volta da corrida do ouro na Califórnia, afundou após ser atingido por um furacão na costa da Carolina do Sul. Dos 578 passageiros, 425 perderam a vida, tornando este um dos piores desastres marítimos da história dos Estados Unidos.
Em 1991, o navio foi resgatado, e os exploradores fizeram uma descoberta inusitada: uma mala contendo 37 charutos, que haviam permanecido submersos por mais de um século. Apesar de encharcados, os charutos foram submetidos a um processo de liofilização – uma técnica de desidratação que preserva materiais delicados – e, após anos de cuidadosa recuperação, 18 desses charutos foram leiloados pela J.C. Newman, uma das empresas de charutos mais renomadas dos Estados Unidos, por seis mil dólares.
Carolina Macedo, cigar somelière e sócia da Bulldog Tabacaria, destacou um detalhe curioso sobre os charutos: eles não apresentavam o formato padronizado que conhecemos hoje. Isso porque, na época da confecção desses charutos, ainda não era comum o uso de moldes para enrolá-los, resultando em formatos mais rústicos.
O museu da J.C. Newman, localizado no histórico edifício El Reloj em Tampa, Flórida, exibe esses charutos como verdadeiras relíquias, guardadas com o mesmo cuidado dedicado a joias preciosas. Além de sua história única, os charutos também oferecem uma janela para o passado, ilustrando como a produção de charutos já era significativa no século XIX, com marcas icônicas como Larrañaga, Ramon Allones, Punch, H. Upmann e Partagas já estabelecidas e influentes na indústria.
Os charutos sobreviventes do S.S. Central America são mais do que simples artefatos – são testemunhas silenciosas de um momento histórico, preservadas e celebradas por colecionadores e entusiastas do tabaco ao redor do mundo.
4o