Barbacena, uma cidade mineira marcada por um passado sombrio, é lembrada como o local onde cerca de 60.000 brasileiros perderam suas vidas em condições desumanas durante o funcionamento do antigo Colônia, um manicômio que acolhia aqueles considerados a “escória” da sociedade. A maioria dos internos eram alcoólatras, sifilíticos, prostitutas, homossexuais, epiléticos, mães solteiras, esposas substituídas por amantes, vítimas de estupro..
Consideradas a “escória” da sociedade, muitas pessoas eram enviadas para Barbacena por suas famílias, motivadas pelo preconceito, pela rejeição a uma gravidez precoce ou simplesmente pela vergonha. Muitos internos eram testemunhas de crimes cometidos por ricos e filhos de patrões, ou haviam sido vítimas de estupro. Em comum acordo com as autoridades e a polícia, eram encaminhados como “loucos” em trens para a cidade, a fim de evitar escândalos que poderiam manchar a reputação das famílias abastadas. Durante nove décadas, muitos morreram de fome, frio e doenças, vivendo em condições precárias e forçados a trabalhar sob a justificativa de “terapia”.
Em vez de enterrar essa infâmia, Barbacena optou por enfrentar seu passado. Um dos pavilhões do Colônia foi transformado no Museu da Loucura, servindo como um espaço de reflexão sobre as atrocidades cometidas em nome da psiquiatria. A cidade decidiu chamá-lo de Museu da Loucura para despertar o interesse do público e preservar essa história, uma das mais crueis relacionadas `psiquiatria no mundo.
Uma Nova Abordagem na Saúde Mental
Desde 2000, a cidade passou por uma transformação significativa, substituindo os antigos manicômios por residências terapêuticas que promovem um tratamento humanizado. As internações caíram drasticamente: antes, o manicômio recebia 130 internações mensais; hoje, esse número é de apenas 30. Essa mudança reflete um movimento internacional em prol da humanização dos cuidados aos doentes mentais.
O Museu da Loucura, criado em 16 de agosto de 1996, é o primeiro do Brasil dedicado à saúde mental e abriga exposições que retratam a evolução da psiquiatria no país. O local, que ainda mantém o cemitério dos internos, simboliza a luta por direitos humanos e a busca por um tratamento digno.
Histórico
A ideia da criação de um museu relacionado à assistência psiquiátrica surgiu em 1979, durante o III Congresso Mineiro de Psiquiatria, com uma exposição de fotos do então Hospital Colônia de Barbacena. Em 1987, o projeto ganhou força com uma nova mostra no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Em 1996, o projeto Memória-Viva, pela Fundac, possibilitou a instalação do museu em parceria com a instituição.
O prédio escolhido para abrigar o museu, o Torreão, foi restaurado e adaptado, permitindo que a história fosse contada nos locais originais em que ocorreram os fatos. A construção, datada de 1922, é um marco arquitetônico da cidade.
Reflexão e Esperança
As salas do museu oferecem diversas experiências que provocam a reflexão sobre o tratamento psiquiátrico no Brasil, enfatizando a importância de não repetir os erros do passado. Com um compromisso renovado com a dignidade e o respeito, Barbacena se reestabelece como um exemplo de que enfrentar um passado doloroso pode levar a um futuro mais humano e inclusivo, onde os direitos dos pacientes psiquiátricos são respeitados e valorizados.
Horário de Funcionamento
- Segunda-feira: 13h às 17h
- Terça a Domingo: 09h às 17h
Local: Av. Quatorze de Agosto, S/Nº – Floresta, Barbacena – MG, 36202-850