Num dia como hoje, acontecia a execução do ex-ditador nicaraguense Anastasio Somoza Debayle, ocorrida em 17 de setembro de 1980, em Assunção, Paraguai, o assassinato simbolizou o fim de uma era de opressão que durou mais de 40 anos. Somoza foi assassinado por um tiro de bazuca e vários disparos de metralhadora enquanto viajava em uma Mercedes 250. A dinastia Somoza, que controlou a Nicarágua desde 1936, deixou um legado de corrupção e repressão que moldou a história do país.
A ação, que durou apenas alguns minutos, foi conduzida por seis homens mascarados armados com uma bazuca e metralhadoras, aproveitando um momento de grande movimento a cerca de 700 metros da residência de Somoza.
A emboscada teve início quando três dos homens, escondidos em uma casa de esquina, dispararam uma bazuca diretamente contra o carro de Somoza. Ao mesmo tempo, outros três atacantes saltaram de uma caminhonete e dispararam várias rajadas de metralhadora contra o veículo. O ex-ditador, seu motorista e o assessor econômico Joseph Beíttiner morreram no local.
A morte do ex-ditador reabriu o debate sobre a impunidade de antigos ditadores que seguem livres, mesmo após haverem cometido toda sorte de atrocidades, e a constante ameaça enfrentada por exilados políticos. O ataque foi uma ação planejada por grupos revolucionários que buscavam justiça pelos crimes cometidos durante o governo de Somoza, um regime marcado por violações de direitos humanos e repressão severa contra opositores.
O ocorrido, não apenas repercutiu no cenário internacional, mas foi motivo de celebração nas ruas do país que ele governou com mão de ferro até ser deposto. A Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), que liderou a revolução contra o regime dos Somoza, decretou oficialmente um “dia de júbilo nacional”. Milhares de nicaraguenses tomaram as ruas em festa, em Manágua, na capital do país e outras cidades, bandeiras da Frente Sandinista eram agitadas enquanto fogos de artifício iluminavam o céu, comemorando o fim de uma era marcada pela repressão e brutalidade do regime somozista.
Uma das vozes mais proeminentes a reagir à morte de Somoza foi Violeta Chamorro, ex-integrante da Junta de Governo da Nicarágua e viúva do jornalista Pedro Joaquín Chamorro, assassinado em 1978 a mando do ditador. Pedro Joaquín Chamorro, tornou-se mártir da causa revolucionária, e seu assassinato foi um dos catalisadores para a insurreição que derrubou Somoza.
Reforma Agrária, Alfabetização e Nacionalizações
Dois dias após o assassinato de Anastasio Somoza Debayle, a Revolução Sandinista consolidou sua vitória ao assumir o controle de Manágua, estabelecendo a Junta de Governo de Reconstrução Nacional. Essa nova comissão, formada por líderes da Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN) e representantes da burguesia que se aliou ao movimento, simbolizou o início de uma era de mudanças significativas na Nicarágua.
Uma das primeiras ações do novo governo foi a implementação da reforma agrária, confiscando terras pertencentes a Somoza e seus aliados. As Áreas de Propriedade do Povo foram criadas, resultando na redistribuição de terras para cerca de 50 mil nicaraguenses, com o objetivo de combater a desigualdade e garantir acesso à terra para os menos favorecidos.
Além disso, setores fundamentais da economia, como energia e telecomunicações, foram nacionalizados. Essas medidas permitiram ao governo sandinista exercer um controle significativo sobre a economia, promovendo o crescimento interno e a redução das disparidades sociais.
Outra política marcante foi a Cruzada Nacional de Alfabetização, inspirada pelos métodos do educador brasileiro Paulo Freire. O programa envolveu mobilizar estudantes e professores para ensinar leitura e escrita em áreas rurais e urbanas. O impacto foi notável: a taxa de analfabetismo caiu de 50,3% para 12,9% em apenas cinco meses. A Nicarágua recebeu reconhecimento internacional, incluindo prêmios da UNESCO, consolidando-se como um modelo de progresso social.
As reformas implementadas pela Junta de Governo de Reconstrução Nacional tiveram um efeito duradouro na sociedade nicaraguense, transformando a estrutura econômica e social do país. No entanto, essas mudanças também trouxeram desafios, incluindo oposição interna e tensões com potências estrangeiras, especialmente os Estados Unidos, que viam a revolução com preocupação.
A Revolução Sandinista não apenas marcou o fim de um regime ditatorial, mas também iniciou um novo capítulo de esperanças e desafios para a Nicarágua. A busca por justiça social e um modelo de governança mais igualitário continua a influenciar a política e a sociedade nicaraguense até os dias de hoje, evidenciando a importância deste período na história do país.
Ascensão ao Poder
Anastasio Somoza Debayle, conhecido como “Tachito”, nasceu em 5 de dezembro de 1925 em León, Nicarágua. Ele era filho de Anastasio García Somoza e irmão de Luis Anastasio Somoza, ambos ex-presidentes. Tachito assumiu a presidência pela primeira vez em 1967, após a morte de seu irmão, em uma eleição sem concorrentes. Durante seu governo, a dinastia Somoza acumulou uma das maiores fortunas da América Latina, com estimativas de riqueza de até 900 milhões de dólares no momento de sua deposição em 1979.
A administração de Somoza foi marcada por uma repressão violenta e corrupção desenfreada. Ele utilizou recursos destinados à reconstrução após o devastador terremoto de 1972 para enriquecer sua família e consolidar seu poder. Tachito, um fervoroso anticomunista, apoiou os Estados Unidos em várias iniciativas, incluindo a invasão da Baía dos Porcos em Cuba em 1961.
O Colapso do Regime
Em 1979, a Frente Sandinista de Libertação Nacional, inspirada pelo legado do general Augusto Sandino, lançou uma série de ofensivas que culminaram na queda de Somoza. Após a derrota, ele se exilou no Paraguai sob a proteção do ditador Alfredo Stroessner. O regime sandinista que se seguiu buscou reverter as políticas de Somoza e estabelecer uma nova ordem política na Nicarágua.
A morte de Somoza levou a uma rápida elucidação por parte do governo paraguaio, que deteve suspeitos e expulsou dezenas de argentinos do país, tentando desvincular-se do atentado. O assassinato gerou uma onda de especulações sobre o envolvimento de grupos guerrilheiros e a instabilidade política na América Latina.
O legado de Anastasio Somoza Debayle e sua dinastia continua a influenciar a política nicaraguense contemporânea. O período de repressão e corrupção deixou marcas profundas na sociedade nicaraguense, que ainda luta contra os desafios da governança e da desigualdade. O colapso do regime Somoza representa não apenas o fim de uma era, mas também o início de um novo capítulo na luta pela justiça e pela democracia na Nicarágua.