No dia 7 de junho de 1989, a música brasileira se despedia de uma de suas maiores vozes: Nara Leão. Morta aos 47 anos, vítima de um tumor cerebral inoperável, a cantora e compositora deixou um legado de rebeldia, talento e luta por um Brasil mais justo.
Nascida em Vitória, no Espírito Santo, em 1942, Nara se mudou para o Rio de Janeiro ainda pequena, onde se viu cercada por um ambiente musical efervescente. Em meio à boemia carioca, a jovem artista se encantou com a Bossa Nova, movimento que nascia nos anos 1950.
Embora tenha se tornado um dos rostos mais emblemáticos da Bossa Nova, Nara nunca se encaixou totalmente no movimento. Sua voz potente e expressiva buscava algo mais do que apenas melodias suaves e letras românticas.
Em 1964, com o golpe militar instaurado no Brasil, Nara se viu impelida a usar sua voz para contestar o regime autoritário. Ao lado de João do Vale e Zé Keti, no espetáculo “Opinião”, ela deu voz às críticas sociais e políticas que se acumulavam desde a tomada de poder pelos militares.
Nara Leão não se limitava ao canto. Sua inteligência e inquietação a levaram a explorar diferentes áreas, como o jornalismo, o teatro e o cinema. Sua postura combativa e engajamento com as causas sociais a transformaram em um símbolo da contracultura brasileira.
Em 1966, no auge da repressão militar, Nara Leão cantou a música “A Banda”, de Chico Buarque, no Festival da MPB. Sua performance emocionada e a mensagem contundente da canção a consagraram como uma das maiores vozes da resistência contra a ditadura.
Nara não apenas desafiou a ditadura, mas também a caretice da classe média. Sua música e suas atitudes rompem com as expectativas tradicionais, trazendo à tona questões sociais e políticas urgentes. A cantora foi um símbolo de liberdade, mostrando que nem mesmo a repressão poderia calar a sua voz. “E nem adianta prisão para a voz que, pelos ares, espalha sua canção”, ela cantou, encapsulando seu espírito indomável.
A perseguição do regime militar a obrigou a se exilar na França em 1967. Lá, ela continuou a fazer música e se envolveu com movimentos de esquerda, sempre defendendo a liberdade e a justiça social.
Após 12 anos de exílio, Nara Leão retornou ao Brasil em 1979, durante a abertura política. Sua volta foi recebida com grande entusiasmo pelo público e pela comunidade artística.
Nara Leão deixou um legado musical imenso, com canções como “Com Açúcar e com Afeto”, “O Barquinho” e “Carcará”. Sua voz única e sua postura combativa a transformaram em um ícone da cultura brasileira, inspirando gerações de artistas e ativistas.
Nara Leão foi uma mulher complexa e multifacetada. Sua timidez contrastava com sua força e determinação. Sua voz doce e suave escondia uma mente afiada e um espírito rebelde.
Ao longo de sua carreira, Nara Leão quebrou barreiras, desafiou convenções e lutou por um mundo mais justo e igualitário. Sua obra e seu legado continuam a inspirar e emocionar pessoas em todo o mundo.
Nara Leão, Presente!