No Peru, Francisco se reúne com 4 mil representantes de comunidades indígenas. No encontro, pontífice critica exploração da Amazônia e cultura machista.
Durante um encontro com povos nativos em Puerto Maldonado, no coração da selva amazônica peruana, o papa Francisco denunciou nesta sexta-feira (19/01) a opressão contra indígenas da Amazônia pelos interesses econômicos e advertiu que esses povos “nunca estiveram tão ameaçados como agora”.
Como ameaça aos povos indígenas, o papa citou a forte pressão dos interesses econômicos “que dirigem sua avidez sobre petróleo, gás, madeira, ouro, monoculturas agroindustriais”, além de políticas que promovem a conservação da natureza sem levar em conta o ser humano.
Francisco também criticou movimentos que monopolizaram grandes extensões de florestas.
“Temos que romper com o paradigma histórico que considera a Amazônia como uma despensa inesgotável dos Estados sem levar em conta seus habitantes”, ressaltou.
Papa ouviu representantes indígenas sobre situação na Amazônia
Francisco destacou ainda outras formas de agressões cometidas na Amazônia, como tráfico de pessoas, o trabalho escravo e o abuso sexual. “A violência contra as adolescentes e mulheres é um clamor que chega ao céu”, afirmou o papa, que seguiu criticando a cultura machista.
“É triste constatar que nesta terra, que está sob a proteção da Mãe de Deus, muitas mulheres sejam tão desvalorizadas, desprezadas e sujeitas à violência sem fim”, disse. “Não se pode ‘olhar como natural’ a violência contra as mulheres, mantendo uma cultura machista que não aceita o papel de protagonista da mulher nas nossas comunidades.”
Em seu primeiro ato da viagem ao Peru, Francisco foi recebido por 4 mil representantes de comunidades indígenas que mostraram ao pontífice seus cantos, danças e tradições, além de denunciar abusos que enfrentam na região.
“Os nossos irmãos indígenas de várias regiões da Amazônia sofrem com as explorações dos nossos recursos naturais. Atualmente, muitas pessoas de fora invadem os nossos territórios: madeireiros, garimpeiros, companhias de petróleo”, afirmaram Hector Sueyo e Yésica Patiachi, do povo Harakbut.
Após ouvir os indígenas, o papa lembrou um a um os nomes dos diferentes povos originários da Amazônia e afirmou que tinha desejado “muito este encontro” e por isso quis começar sua visita ao Peru no local. A região se tornou um símbolo da devastação das selvas peruanas.
Cerca de 4 mil indígenas participaram de encontro com o papa
O papa destacou ainda que as comunidades indígenas representam uma enorme riqueza biológica, cultural e espiritual. “Aqueles de nós que não habitamos estas terras precisamos de vossa sabedoria e conhecimento para poder entrar, sem destruir, o tesouro contido nesta região”, acrescentou.
Reuniões em Lima
Depois do encontro, Francisco almoçou com representantes de comunidades indígenas, se encontrou com representantes da sociedade civil e visitou um abrigo para crianças. No fim do dia, o papa retornará a Lima, onde fará uma visita ao presidente do Peru, Pedro Pablo Kuczynski, e as principais autoridades peruanas no Palácio do Governo.
Antes de viajar para Puerto Maldonado, o papa cumprimentou os fiéis que o esperavam em frente à Nunciatura Apostólica, em Lima, e rezou com eles. Pouco antes, Francisco celebrou uma missa na capela para um pequeno grupo de convidados.
A situação dos povos indígenas é um dos principais pontos da agenda do papa na sua visita ao Peru, que se estenderá até ao dia 21 de janeiro e que se realiza num dos momentos mais críticos para a Amazônia, segundo lideranças locais. Pelo menos 4 milhões de peruanos fazem parte dos 55 povos indígenas que são reconhecidos no país.