Três vezes governador do Paraná, uma vez prefeito e ex-deputado estadual, Requião investiu em TV estatal e fez um acordo com Hugo Chávez para distribuir o sinal pela Telesur.
O senhor teria dito que o José Dirceu afirmou que a Globo era a TV do governo. Essa história é verdadeira?
A história é real. Eles achavam que não era necessário estimular as televisões públicas. No governo, estimulei a TV Educativa do Paraná e rompi com a mídia privada. Trabalhava praticamente somente com emissoras públicas. Quando disse ao Zé Dirceu sobre meu trabalho, ele me respondeu que “nós não precisamos disso, porque temos a Globo”. Isso foi um erro. Infelizmente eu não me lembro em que ano exatamente ele me disse tal coisa, mas é tudo verdade.
O que o senhor acha dos governos do PT terem gasto de R$ 6 bilhões em publicidade com a Globo?
Os governos acreditaram de verdade na história da mídia técnica, de que alguns canais mereciam maiores investimentos. Eles acharam que, se a Globo estivesse recebendo deles, estariam apoiando o governo. Eles acharam que conquistariam seu apoio. Se enganaram completamente.
Como foi sua experiência no governo do Paraná?
Eu fui pressionado pela grande mídia a soltar os cofres como o governo do PT fez e não percebeu as consequências. Disse aos grupos que não faria isso e eles responderam que “você vai ver o que acontece”. No final fui eu que mostrei o que aconteceu, porque eu removi essa verba publicitária do orçamento. Eles não tinham mais nem como me pressionar para liberar nada.
E qual foi a consequência disso?
Passei a falar mais na televisão do estado do Paraná e me elegi três vezes governador. Tenho esses grupos de mídia até hoje como meus adversários políticos.
Como o senhor avalia a cobertura da operação Lava Jato?
O trabalho do juiz Sérgio Moro ganhou peso com a atuação da imprensa. Qualquer coisa que acontece com determinadas pessoas, aparece imediatamente. É o que aconteceu com a recente denúncia do doleiro Youssef, que repetiu pela quarta vez que Furnas dava dinheiro ao [José] Janene que afirmava que isso seria ao Aécio Neves.
Este caso desaparece e só surge o que interessa à mídia, que é seletiva. A mídia não quer a limpeza da política brasileira, mas sim derrubar prováveis adversários.
O que achou da visita de Ronaldo Caiado e Aécio Neves à Venezuela?
Eles foram pra lá querendo criar um espetáculo. Na minha opinião, os senadores queriam ser presos dentro da Venezuela. Eles queriam dar uma desculpa para justificar a ideia de que aquele governo é autoritário. Queriam posar como defensores da democracia para criar um espetáculo político.
Ali não havia nenhum interesse pela moralidade de verdade. Eles tentaram chamar atenção neste contexto de atacar governos com inclinações progressistas na América do Sul, investida promovida pelos interesses do grande capital.
Logo depois desta viagem, Caiado se tornou colunista do jornal Folha de S. Paulo…
Eu acho que a Folha andou demitindo muita gente e o Caiado acaba trabalhando de graça pra eles.
O senhor disse em agosto que o juiz Sérgio Moro votou no senhor para governador e na presidente Dilma. Como o senhor avalia o trabalho dele?
Eu acho que o Sérgio Moro é um bom juiz e a primeira delação premiada do Alberto Youssef, que tem 14 anos, incluiu o governo inteiro do Jaime Lerner (DEM) e não tinha ninguém do PT. Como ele era juiz federal e a delação dizia respeito a questões do estado do Paraná, o processo foi engavetado até hoje.
Não homologaram aquela antiga delação do Youssef. Isso está na minha página na internet. Por isso, acredito que o Moro não seja uma pessoa que está atacando o PT. Ele fez a parte dele como juiz nessa operação.
A investigação sobre Furnas é um braço importante na Lava Jato? Há uma omissão dos crimes de tucanos e outros partidos políticos?
Acredito que há um conluio ideológico das instituições. Eles querem punir qualquer desvio mais à esquerda, qualquer política popular e nacional. Ideologicamente, eles protegem os seus.
Neste cenário de corrupção, convivemos com o ajuste fiscal. Como o senhor avalia esse ajuste?
Não há ajuste fiscal, e sim arrocho. Essa política econômica é um passaporte para o Brasil virar uma Grécia. Vai acontecer aqui o que aconteceu lá. A Dilma acaba cumprindo nisso todo o plano de governo do Aécio.
Agora ela está eliminando ministérios. Um ministro ganha R$ 35 mil. Se tirarem 10 dá, no máximo, R$ 350 mil por mês de economia. E ela pode incorporar toda a estrutura d eu ministério em outro. Isso não tem muito sentido.
A crítica que se pode fazer ao excesso de ministros da Dilma é que eles deveriam conversar com ela. São 39 ministros e alguns ela mal deve conhecer. Isso é um problema de comunicação e de gerenciamento. Cortar esses cargos por dinheiro é irrisório para a economia. Ela deve cortar cargos sim, mas não com essa história porque isso não economiza nada.
Que ministérios o senhor cortaria do governo Dilma?
Eu? Nenhum! Não teria, talvez, criado alguns. São ministérios políticos e não são eles a questão do Brasil. O problema deste país é o juro. Se você quer fazer economia de verdade, corte os juros.
O ministro Levy quer cortar investimentos, o Nelson Barbosa quer mais impostos e nenhum deles fala sobre reduzir a lucratividade dos rentistas e dos bancos. Isso é uma piada de mau gosto!
Os bancos não querem ouvir em afastamento da Dilma Rousseff, porque sabem que Joaquim Levy sairia também. E temos que cortar a taxa Selic, assim como debêntures emitidas pelo Banco Central, com juros absurdos.
Como o senhor avalia Beto Richa?
O governo está totalmente destruído. Uma parte dos auxiliares dele estão na cadeia. Outra parte coleciona acusações. Estão totalmente desmoralizados e são incompetentes. Estão quebrados e são ineficientes.
Beto Richa, sendo tucano, está blindado pela mídia?
No noticiário nacional, sim, no regional não. O estado está totalmente liquidado. O sul sabe o que acontece no governo Richa.
(Pedro Zambarda de Araujo / DCM)