Burocracia impede que médicos que se formaram fora do Brasil ajudem no combate à pandemia

Foto: Divulgação

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Médicos que se formaram fora do Brasil, e que poderiam ajudar no combate à pandemia do coronavírus, estão parados por causa da burocracia. Há três anos, o Brasil não faz o exame que revalida os diplomas de medicina emitidos no exterior.

A foto na parede é do tamanho do orgulho da médica Elaine Borges Rodrigues, nascida e criada na Rocinha. Formada em Cuba, ela achou que, para trabalhar no Brasil, só era necessário ser aprovada no Revalida, uma prova que reconhece diplomas de medicina emitidos no exterior. Mas, há três anos, esse exame não é feito e a médica está sem emprego.

“Nada é mais justo do que o governo dar uma chance para os brasileiros que estão desempregados poderem atuar agora no combate à pandemia”, fala Elaine

O Revalida é aplicado pelo Inep, Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais, órgão ligado ao Ministério da Educação.No fim do ano passado, uma lei sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro mudou as regras do Revalida. A prova deve ser aplicada duas vezes por ano. O Inep disse que a prova ocorrerá este ano, mas não informou uma data. Afirmou que ainda trabalha na formação da banca de especialistas e definição do cronograma do exame.

Sem o Revalida, as associações de médicos formados no exterior, estimam que 15 mil profissionais estejam de braços cruzados, impedidos de trabalhar. Mão de obra parada, no momento em que é ainda mais necessária.

Ainda não há um número oficial de médicos infectados no país. Mas, com o agravamento da pandemia, os afastamentos tem aumentado.

Para suprir essas baixas, veterinários e estudantes de medicina de universidades brasileiras estão sendo convocados.

No fim de março, o Ministério da Saúde publicou um edital chamando médicos estrangeiros para retornarem ao programa Mais Médicos.

O ingresso de médicos brasileiros sem registro também está na lei que criou o programa.

Mas, até agora, o Ministério da Saúde não deu sinais de que deve contar com esses profissionais. No ultimo dia (17), o consórcio formado por governadores do Nordeste pediu ao Ministério da Saúde autorização para contratar os médicos brasileiros formados no exterior.

“Esperamos o mais rápido possível uma posição do ministério favorável pra que esses médicos possam atuar no reforço de todo o sistema de saúde do país inteiro”, disse o governador da Bahia, Rui Costa.

Uma reunião está marcada pra próxima segunda-feira. Outra preocupação é com o afastamento dos médicos que são do grupo de risco.

 É o caso de Eduardo, que trabalha numa unidade de saúde em Taubaté, no interior de São Paulo.

Por enquanto, o jaleco está no armário. Aos 62 anos e hipertenso, o médico foi orientado a ficar em casa.

“Estão fazendo isso pra proteger, e a gente é obrigado a concordar, apesar de querer estar trabalhando”, diz o médico Eduardo Faria.

A substituição poderia vir de casa mesmo. Rodrigo seguiu os passos do pai. Depois de se formar na Argentina voltou ao Brasil e entrou no programa Mais Médicos. Foram três anos atendendo na periferia de São Paulo, até o contrato acabar, no ano passado. Sem o Revalida, o jovem médico só pode se dedicar aos estudos.

“Você não pode exercer três anos de medicina no seu próprio país e, da noite pro dia, o governo dizer que você não serve mais. Somos médicos capacitados para estar ali na linha de frente, estamos com vontade de ajudar, queremos trabalhar, queremos ajudar e estamos impossibilitados por causa dessa situação”.

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O Inep informou que precisou reaplicar os exames para alguns participantes do Revalida de 2017 e que o resultado só saiu no ano passado. Por isso, segundo o Inep, não foi possível submeter novos candidatos ao exame nesse período. Perguntamos ao Ministério da Saúde se a pasta pretende convocar esses médicos, mas não tivemos resposta.

Por: Jornal Nacional

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