Bruxas de Salém: uma história de fúria religiosa e injustiça

Ilustração de um julgamento de Salem - Getty Images

Em fevereiro de 1692, a pacata cidade de Salem, em Massachusetts, se tornou o palco de um dos episódios mais sombrios e injustos da história americana: a Caça às Bruxas de Salem. Esse período foi marcado por uma série de julgamentos e execuções de mulheres, acusadas de bruxaria sem qualquer prova concreta.

O terror toma conta de Salem

O fervor religioso exacerbado e o medo do desconhecido lançaram os habitantes de Salem em uma onda de histeria coletiva. Jovens mulheres, principalmente, foram alvo de acusações infundadas, muitas vezes motivadas por inveja, rancor ou disputas de terra. Em um contexto onde a superstição e a desconfiança reinavam, qualquer comportamento ou característica fora do comum poderia ser interpretado como um sinal de ligação com o mal.

A injustiça e a tragédia

Entre 1692 e 1693, mais de 150 pessoas foram presas e 25 delas executadas, a maioria por enforcamento. As acusações baseavam-se em “evidências” frágeis e absurdas, como visões e sonhos relatados por supostas vítimas, o famigerado “teste da água” (no qual a acusada era submersa para verificar se afundava ou boiava, sendo o último considerado prova de bruxaria), e a busca por “marcas do diabo” nos corpos das acusadas.

Este período de medo e paranoia culminou em tragédias que deixaram uma marca indelével na história dos Estados Unidos, servindo como um lembrete sombrio dos perigos da intolerância e do fanatismo.

Spofford teria usado seus poderes para regredir a recuperação de Lucretia/Crédito: Wikimedia Commons

Em 1878, quase dois séculos após a infame Caça às Bruxas, Salem voltou a ser o centro de um julgamento controverso, desta vez envolvendo Daniel Spofford, um veterano da Guerra Civil Americana e praticante da Ciência Cristã. Spofford se dedicava à cura metafísica, mas sua ligação com Lucretia Brown, uma mulher que ele tentou curar, o colocou novamente sob os holofotes da intolerância e do sensacionalismo.

Uma Nova Onda de Acusações

Lucretia Brown acusou Spofford de usar poderes hipnóticos para prejudicá-la, o que gerou grande comoção na comunidade de Salem. A acusação foi interpretada como um ataque à Ciência Cristã, a nova e emergente crença religiosa fundada por Mary Baker Eddy. Assim como nas décadas passadas, a cidade se viu envolvida em uma atmosfera de medo e desconfiança, onde a realidade se confundia com fantasias e superstições.

Um Julgamento Marcado por Injustiças

O julgamento de Spofford não se distanciou muito do que ocorrera no século XVII. Testemunhas contra ele, incluindo a própria Mary Baker Eddy, apresentaram relatos fantasiosos, sem fundamento, numa tentativa de desacreditar sua prática de cura. A mídia da época, ávida por sensacionalismo, ampliou o caso, gerando ainda mais interesse público e contribuindo para um julgamento permeado por irregularidades.

Apesar da falta de provas concretas, Spofford foi injustamente condenado a um ano de prisão. Contudo, a Suprema Corte de Massachusetts, ao analisar o caso, anulou a condenação, reconhecendo que a corte inferior não tinha jurisdição para julgar um caso tão baseado em crenças espirituais e hipnose.

Tanto a Caça às Bruxas de Salem quanto o julgamento de Daniel Spofford são marcos sombrios que nos alertam para os perigos da intolerância religiosa, da manipulação da justiça, e da histeria coletiva. Esses eventos não apenas ecoam as injustiças do passado, mas também nos lembram da necessidade de defender a liberdade de crença, o respeito às diferenças e a importância de um sistema judicial verdadeiramente imparcial e justo.

Para saber mais:

Sair da versão mobile