Morreu nesse sábado (6), aos 91 anos, o desenhista e escritor Ziraldo, criador do Menino Maluquinho e do clássico Flicts, além de centenas de outras histórias e personagens que povoam o imaginário infantil há gerações.
De acordo com a família, ele morreu dormindo, quando estava em casa, em um apartamento no Rio de Janeiro, por volta das 15h.
Formado em direito, Ziraldo foi cartunista, chargista, escritor, pintor, dramaturgo, cronista, apresentador e humorista, entre outras atividades ao longo de mais de seis décadas de carreira.
Sua saúde debilitou-se após três acidentes vasculares cerebrais sofridos a partir de 2018, quando passou a não dar mais entrevistas por recomendação médica.
Em um vídeo gravado em 2019 para divulgação de uma exposição dedicada a ele, Ziraldo comentou que não estava triste, ao se desculpar pela voz um tanto abatida. Era a idade que havia chegado.
“Vocês podem achar que eu estou um pouco triste, falando devagar, porque não é meu estilo. Acontece que eu de repente fiquei velho. Foi outro dia. Eu acordei de manhã e estava velho”, disse ele, vestindo um de seus indefectíveis coletes. “Mas eu estou alegre, estou feliz da vida.”
No mesmo ano, negou ele mesmo um boato de que teria morrido ao publicar uma foto em sua conta no Instagram, dizendo estar “firme e forte”. Ao ser procurado por jornais para comentar o boato, disse estar “ocupado demais celebrando a vida”.
De Caratinga para o mundo
Ziraldo Alves Pinto nasceu em 24 de outubro de 1932 em Caratinga, Minas Gerais. Mais velho de sete irmãos, seu nome é a combinação dos nomes da mãe, Zizinha, com o do pai, Geraldo, como é comum no interior do Brasil.
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O cartunista passou a infância em Caratinga, onde cedo revelou sua paixão pelo desenho e pela leitura, principalmente de revistas em quadrinhos.
O menino Ziraldo, diz sua página oficial, desenhava em todos os lugares: na calçada, nas paredes, na sala de aula. Em 1939, com apenas 6 anos, viu seu primeiro desenho ser publicado no jornal Folha de Minas.
Adolescente, mudou-se com o avô para o Rio de Janeiro, onde viveu por dois anos. Retornou a Minas para terminar o curso científico (atual ensino médio) e, em 1957, formou-se em direito em Belo Horizonte. Nessa época, no entanto, sua carreira já estava totalmente voltada para o desenho.
Ziraldo começou a colaborar mensalmente com a revista Era uma Vez. Em 1954, passou a publicar uma página de humor na Folha de Minas, o mesmo jornal que havia veiculado seu primeiro desenho ainda criança.
Ao terminar a faculdade, começou a publicar suas criações em revistas nacionais como O Cruzeiro, publicação dos Diários Associados, e no Jornal do Brasil, veículos que ficavam no Rio de Janeiro, onde voltou a morar.
Charge política
Em 1969, em meio a prisões e perseguições, o artista foi contemplado com o principal prêmio do 32º Salão Internacional de Caricaturas de Bruxelas, considerado o Oscar do humor, depois de ter trabalhos publicados em revistas na Europa e Estados Unidos.
No mesmo ano recebeu o Merghantealler, prêmio que homenageia o trabalho pela imprensa livre na América Latina dado pela Associação Internacional de Imprensa.
Ziraldo ainda se tornaria o primeiro artista latino convidado a desenhar o cartaz da campanha anual do Unicef.
Ele publicaria ainda seu primeiro livro infantil, “Flicts”. A história de uma cor que não encontrava seu lugar no mundo, contada como um poema gráfico, com o mínimo de palavras, encantou crianças e adultos.
Dado de presente pela Embaixada dos Estados Unidos no Brasil aos astronautas americanos que fizeram parte da primeira expedição à lua na sua visita ao país, o livro comoveu Neil Armstrong, que escreveu ao autor: “A lua é Flicts”.
Menino Maluquinho
Nas décadas seguintes, Ziraldo passaria a se dedicar mais a sua outra grande paixão, as histórias para crianças. Em 1980, lançou “O Menino Maluquinho”, sucesso de vendas e ganhador do prêmio Jabuti, o principal das nossas letras.
O menino com uma panela na cabeça e sua capa e espada improvisadas se converteu num dos maiores fenômenos editoriais da literatura infantil, com mais de 4 milhões de exemplares vendidos até hoje e adaptações para o teatro, cinema, série de TV e até ópera.
Desde então, foram mais de 100 livros publicados como autor, colaborador ou ilustrador, e muitos outros best-sellers.
“Uma Professora Muito Maluquinha”, de 1995, já vendeu mais de meio milhão de exemplares. “O Bichinho da Maçã”, de 1982, mais de 300 mil. As histórias de Ziraldo também chegaram a crianças do mundo todo, traduzidas em espanhol, italiano, inglês, alemão e francês, entre outras línguas.