Autoridades do condado de St. Louis declararam na segunda-feira (10) estado de emergência na região após os protestos que relembram um ano da morte do jovem negro Michael Brown – assassinado por um policial branco no dia 9 de agosto de 2014 na cidade norte-americana de Ferguson -, terem acabado em confrontos violentos.
Nas marchas que começaram no último domingo (09) e que se estenderam durante a madrugada de segunda, Tyrone Harris Jr., um jovem de 18 anos, foi baleado por um policial e está hospitalizado em estado crítico de saúde. Até o momento, as forças de segurança não explicaram por que abriram fogo contra os manifestantes. Mais de 50 pessoas foram detidas.
“Tendo em vista os episódios de violência e tumulto da noite passada na cidade de Ferguson, e o dano em potencial às pessoas e propriedades, declaro estado de emergência, com efeito imediato”, justificou o chefe do Executivo do condado de St. Louis, Steve Stenger.
Jovem baleado
Harris, o rapaz baleado, responderá por quatro acusações de ataque em primeiro grau a agentes de segurança, cinco de ação criminal armada e uma por descarregar uma arma de fogo contra um veículo. Foi estabelecida uma fiança de US$ 250 mil em espécie.
Segundo o relato dos policiais, Harris fazia parte de um grupo de jovens que teriam começado a se enfrentar, trocando tiros entre si na noite do domingo.
Quatro policiais que estavam à paisana começaram a perseguir Harris, que abriu fogo contra o veículo. Ele seguiu atirando contra os agentes mesmo depois de eles terem saído do carro, conforme disseram as autoridades.
Os agentes devolveram os tiros e acabaram acertando o jovem, que ficou gravemente ferido. Suspensos enquanto o fato é investigado, os policiais não levavam câmeras em seus uniformes, uma prática cada vez mais recomendada para esclarecer as acusações sobre violência policial.
O pai do jovem ferido, Tyrone Harris, defendeu a inocência do filho e questionou o relato da polícia. “Meu filho sequer estava armado quando eles dispararam”, garantiu Harris em entrevista ao jornal The Washington Post.
A polícia, no entanto, assegura que encontrou uma pistola de 9 milímetros no local. A arma teria sido roubada em outra cidade do estado, mas Harris negou que ela pertencesse ao filho. Segundo o pai, o jovem foi atacado pela polícia quando “corria para salvar sua vida” após o tiroteio entre dois grupos de jovens na avenida West Florissant, o epicentro dos protestos. Duas meninas que estavam com seu filho afirmam que ele não estava armado.
Repercussão
A procuradora-geral dos EUA, Loretta Lynch, condenou hoje “categoricamente” todo tipo de violência em Ferguson, “incluindo [a exercida] contra os policiais”.
O governador do Missouri, o democrata Jay Nixon, afirmou em comunicado que “aterrorizam as comunidades com disparos e cometem violência contra policiais são criminosos”, pedindo que novos protestos convocados na cidade sejam “pacíficos”.
Mais de cem pessoas participaram na segunda-feira (10) de um ato de desobediência civil. Eles fizeram uma passeata até o tribunal federal de Ferguson, onde chegaram cantando “Black lives matter (Vidas negras importam)”, o lema do movimento antirracismo surgido após a morte de Brown . Os manifestantes romperam uma barreira policial que bloqueava a entrada do tribunal, sentaram no chão e cruzaram os braços.
Foram presas 56 pessoas no protesto, conforme o jornal Saint Louis Post-Dispatch, que informou que vários dos manifestantes pediam a dissolução do Departamento de Polícia de Ferguson.
Depois do assassinato de Brown, em agosto de 2014, o Departamento de Justiça já interveio na polícia da cidade, majoritariamente branca, e descobriu que os agentes mantinham práticas abusivas contra a população negra.
O estado de emergência declarado pelo chefe do condado de Saint Louis, Steve Stenger, prevê que o controle da polícia na cidade de Ferguson passa a ser do comandante do condado, Jon Belmar, com o objetivo de conter as tensões.
(Opera Mundi)