Movimento Mães de Maio cobra o fim dos extermínios nas periferias

Foto: Reprodução

Foto: Reprodução

A morte da adolescente Letícia Vieira Hillebrand da Silva, 15 anos, a 19ª vítima das chacinas nas cidades de Barueri, Osasco e Itapevi na noite de 13 de agosto, é o mote para o movimento Mães de Maio reforçar a cobrança que faz há quase dez anos pelo fim do extermínio de moradores das periferias, negros, pobres e indígenas.

“Um sem número de medidas práticas poderiam ser feitas para que não tenhamos novas perdas de meninas e meninos com apenas… 15 anos”, reivindica o Mães de Maio, que este ano recebe apoio emergencial do Fundo Brasil de Direitos Humanos. O movimento já foi apoiado também em 2010 e 2011.

Letícia morreu na madrugada de quinta-feira (27), após 14 dias de internação hospitalar. Ela foi baleada no abdômen em Osasco, cidade onde morava. Estava na calçada com uma amiga quando foi atingida pelos disparos. É a vítima mais jovem das chacinas ainda não esclarecidas e praticadas por homens encapuzados.

“Um sem número de dias de luto e devastação terão pela frente as famílias de todas as vítimas”, lamentam os representantes do Mães de Maio. O movimento contabiliza 27 mortes em série de chacinas em Osasco, Barueri e região – e não 19, número oficial.

Débora Maria da Silva, representante do Mães de Maio, vê as mais recentes chacinas como resultado da impunidade de outros crimes semelhantes ocorridos em São Paulo.

O Mães de Maio é uma rede de mães, familiares e amigos de vítimas da violência institucional. O movimento foi formado a partir do que ficou conhecido como Crimes de Maio de 2006 e tem a missão de lutar pela verdade, memória e justiça para as vítimas da violência discriminatória, institucional e policial.

“Não foi um, dois ou três. Foram mais de 600 jovens assassinados”, disse Débora em entrevista recente. Ela perdeu o filho de 29 anos nos “crimes de maio” de 2006. “Quando o Brasil não pune seus torturadores, não pune os assassinos do povo que vai para a rua lutar, continua a matar. A ditadura vive, o pau de arara sobreviveu, o desaparecimento forçado sobreviveu muito mais”.

A Anistia Internacional cobra do governo de São Paulo todas as medidas necessárias para garantir uma investigação rápida e imparcial sobre o contexto das mortes e sobre as suspeitas de que policiais estão envolvidos na ação.

“Chacinas como essa em São Paulo, infelizmente, tem feito parte da rotina da violência nas nossas cidades. Com frequência, policiais, dentro e fora de serviço, são responsáveis por uma parcela significativa desses homicídios. Uma investigação célere, transparente e imparcial deve ser conduzida imediatamente para que não reste dúvida sobre a autoria e a responsabilidade por essa barbárie”, disse Átila Roque, diretor executivo da Anistia Internacional no Brasil e também diretor do Fundo Brasil de Direitos Humanos.

De acordo com a Anistia, entre 2013 e 2014 houve um aumento de 80% nos casos de mortes decorrentes de intervenção policial no Estado de São Paulo. A Anistia lembra também que o Brasil é o país com o maior número de homicídio no mundo. Foram 56 mil mortes em 2012. E apenas 8% deles são levados à Justiça.

Sair da versão mobile