Em Santarém, no Pará, indígenas veem suas lavourasficarem inférteis à medida que o agronegócio se expande pela região. Pesticidas são usados às vezes a menos de 10 metros das aldeias, adoentando as comunidades.
Os igarapés usados pelos Munduruku também estão contaminados, quando não secos. Os indígenas abrem poços artesianos para sobreviver, mas a água parece estar quase toda comprometida.
Na região, a história dos Munduruku é marcada pelo atraso na demarcação de sua reserva e por grilagens. Além dos agrotóxicos, a soja trouxe também numerosos pedidos fraudulentos de regularização e violência contra os indígenas.
A paisagem ao redor das aldeias dos Munduruku em Santarém, no oeste do Pará, mudou muito nos últimos 20 anos. O que já foi um imenso planalto no coração da Amazônia, úmido e com densas matas repletas de iguarias como açaí e palmito pupunha, tornou-se um deserto verde. A floresta foi sucessivamente derrubada graças à chegada da soja. Em 2018, a safra do município chegou à maior colheita em uma década, consolidando a tomada do chamado Planalto Santareno. A expansão do agronegócio trouxe graves consequências aos indígenas que ali vivem.
As aldeias são constantemente envenenadas por agrotóxicos, usados sem nenhum controle nas lavouras. “A gente sente o cheiro [dos agrotóxicos], acaba almoçando agoniado”, relatou Luciene Sousa, da aldeia Açaizal, ao Conselho Indigenista Missionário em novembro de 2019. A pulverização acontece a menos de 10 metros das casas e roças indígenas, segundo o Ministério Público Federal (MPF), que acompanha o caso.
O órgão afirma que “não foram adotadas [pelos fazendeiros] as devidas medidas de segurança nas áreas de borrifação [de agrotóxicos]”, denunciando também o assoreamento dos igarapés na área, hoje reclamada pelos indígenas. A história dos Munduruku é marcada pelo atraso na demarcação de sua reserva, por grilagens e pela violenta repressão dos fazendeiros.