Nenhum deles escapou incólume à enxurrada de menções de pagamento de propinas ou doações eleitorais em caixa dois. Os danos foram graves o suficiente para alterar o xadrez da sucessão no Palácio Iguaçu, sede do governo do Estado. Richa, apesar de ter dois aliados concorrendo ao cargo que deixou em abril para candidatar-se ao Senado, pode se tornar um cabo eleitoral indesejável a depender das consequências das investigações contra ele. E Gleisi, que polariza disputas com o tucano desde a eleição para a Prefeitura de Curitiba, em 2008, deve abster-se de tentar sucedê-lo.
Apelidada de “Princesa” na planilha de pagamentos em caixa dois a políticos do setor de Operações Estruturadas (nome oficial do departamento de propinas) da Odebrecht, Cida Borghetti é suspeita de receber R$ 50 mil em 2010. Elegeu-se, naquele ano, deputada federal com mais de 147 mil votos. O Valor apurou que, ao menos por enquanto, ela não é investigada.
A delação premiada de Eduardo Lopes de Souza, dono da Construtora Valor e principal delator da Operação Quadro Negro – que investiga o desvio de dinheiro que deveria ser usado na construção e reforma de escolas estaduais no Paraná – também atinge Cida. O empresário disse ter acertado, em 2015, uma mesada de R$ 15 mil a Juliano Borghetti, irmão dela, em troca de um cargo na vice-governadoria do Estado para a mulher dele. Juliano Borghetti chegou a ser preso provisoriamente, naquele ano, num dos desdobramentos da Quadro Negro.
Por meio da sua assessoria Cida Borghetti afirmou que “não recebeu nenhuma doação ilícita”. “O delator, Benedicto Barbosa da Silva Junior, que entregou a lista, afirmou que não conhecia 80% das pessoas listadas. Essas eram conhecidas do encarregado regional da Odebrecht, Valter Lana, que não citou o nome de Cida Borghetti em sua delação”. Sobre a Quadro Negro, a governadora disse ter determinado investigação à Divisão de Combate à Corrupção da Polícia Civil.
Osmar Dias, irmão do pré-candidato à Presidência Alvaro Dias (Podemos), também aparece na planilha da Odebrecht. Ali, é chamado de “Caim”, em referência à história dos irmãos narrada no livro de Gênesis. Fernando Reis, ex-presidente da Odebrecht Ambiental, disse em delação que a campanha dele ao governo, em 2010, recebeu R$ 500 mil em caixa dois a pedido do PDT. Em dezembro de 2017, o ministro Edson Fachin, relator da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal, ordenou que o caso fosse investigado. O inquérito corre na Justiça Federal do Distrito Federal.
“Meu nome apareceu como todos os nomes da majoritária. Mas só há dois [na planilha da Odebrecht] que não têm valores nem fluxo de caixa indicados: o meu e o do Requião”, disse Osmar Dias ao Valor. “Houve um pedido de inquérito, que está praticamente concluído, a tempo de ficar tudo esclarecido, e não se constatou fato [criminoso].
Eu não conheço essa pessoa, nunca a vi na minha vida”, falou, referindo-se a Fernando Reis.
Ratinho Júnior também apareceu na planilha da Odebrecht. Ali, uma anotação indica um pagamento de R$ 250 mil em 2012, ano em que ele disputou – e perdeu, após vencer o primeiro turno – a Prefeitura de Curitiba. Até o momento, não foi aberta investigação sobre o caso. Procurada, a assessoria dele não respondeu até o fechamento deste texto.
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Roberto Requião, um opositor interno da cúpula do MDB, também não escapou à Lava-Jato. Em dezembro de 2016, o ex-presidente da Transpetro Sérgio Machado disse que a campanha do paranaense recebeu dinheiro de doações em caixa dois feitas pelo frigorífico JBS. Em delação, o executivo Ricardo Saud relatou pagamentos de R$ 46 milhões a políticos emedebistas. Há poucos dias, Fachin autorizou a abertura de inquéritos para apurar as denúncias.
“O diretório nacional do MDB encaminhou o dinheiro. Requião usou na campanha, declarou à Justiça Eleitoral e as contas foram aprovadas. Ele sequer sabia a origem do dinheiro, que recebeu como todos os demais candidatos [do partido] ao governo e ao Senado”, afirmou a assessoria do senador.