SÃO PAULO – Apesar de o presidente Jair Bolsonaro ter dito nesta sexta, 19, que a fome no Brasil “é uma grande mentira”, cerca de 6,3 mil pessoas morrem por ano no País por desnutrição, segundo levantamento feito pelo Estado no Datasus, portal de dados do Ministério da Saúde.
As estatísticas apontam que entre os anos de 2008 e 2017 (último dado disponível), foram pelo menos 63.712 óbitos por complicações decorrentes da desnutrição, uma média de 17 mortes por dia.
Os dados incluem óbitos relacionados aos quadros de desnutrição proteico-calórica leve, moderada e grave e a condições mais raras, porém ainda existentes no Brasil, como kwashiorkor (desnutrição provocada pela ingestão inadequada de proteínas) e marasmo nutricional (condição na qual a falta de calorias leva a importante perda muscular e atrofia de alguns órgãos).
Nesses últimos dois casos, a falta de nutrientes faz com que os doSÃOentes, apesar da magreza, apresentem um inchaço abdominal significativo porque, sem proteínas, o corpo não consegue fazer o transporte devido dos líquidos. É o quadro frequentemente apresentado por crianças em regiões de miséria extrema da África, por exemplo.
Segundo o médico Mario Carra, da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e Metabologia (SBEM), embora a desnutrição tenha diminuído muito nas últimas décadas no Brasil, ainda há parte da população que sofre com o problema.
“Geralmente a desnutrição leva a morte em casos em que o sistema fica privado de calorias e proteínas e não produz anticorpos suficientes. Dessa forma, a pessoa fica mais suscetível a infecções oportunistas que podem matar”, explica o especialista.
Polêmica. Bolsonaro declarou não acreditar que os brasileiros passem fome em um evento com jornalistas estrangeiros na manhã desta sexta, em resposta a uma pergunta sobre desigualdade e combate à pobreza.
“Falar que se passa fome no Brasil é uma grande mentira. Passa-se mal, não come bem. Aí eu concordo. Agora, passar fome, não”, disse o presidente. “Você não vê gente, mesmo pobre, pelas ruas com físico esquelético como a gente vê em alguns outros países pelo mundo”, complementou ele.
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Mais tarde, o presidente recuou e afirmou não saber por que uma “pequena parte” da população ainda passa fome e por que “outros passam mal ainda”.