Por Stallone Ribeiro – Opinião
Mobilidade é Lei de Mercado
A Divisão Internacional do Trabalho (DIT) consiste na especialização e hierarquização dos países em ofertar e receber diferentes tipos de matérias-primas, produtos e serviços diferenciados pelo valor agregado e grau de sofisticação. Com os avanços da terceira Revolução Industrial, a Revolução Técnica-Científica-Informacional que após 1970 nos trouxe máquinas automáticas, informatizadas e a internet, inclusive nos transportes, entender o papel histórico e geográfico do Brasil na DIT ajuda a entender nossa posição no mercado global.
Por séculos o Brasil foi um país periférico, subdesenvolvido, exportador de matérias-primas simples e importador de produtos industrializados e de alto valor agregado. A exemplo no Brasil colônia de 1500 a 1800 enviava madeira, minérios, látex, açúcar e café a Europa e recebia tecidos, roupas, bebidas e centenas de outros produtos manufaturados dos países centrais, desenvolvidos e imperiais.
Conforme as guerras mundiais, crise de 1929 e tensões da Guerra Fria avançavam no século XX, os “países do Norte” e suas empresas transnacionais passaram a ver nos “Países do Sul” um amplo mercado consumidor e por serem fonte de energias, matérias-primas, espaço territorial amplo para implantações e expansões industriais, bem como menor custo da mão de obra e leis fiscais e ambientais mais brandas, inauguraram inumeradas filiais na América Latina, África e Sudeste Asiático.
Assim a Nova DIT se desenhou onde os países centrais exportam tecnologias, capitais, transnacionais e produtos de alto valor agregado, enquanto os países subdesenvolvidos, agora Emergentes, substituem importações através da industrialização globalizada, remetem ainda os produtos primários, energias e matérias-primas, mais também produtos industrializados, royalties, juros, dividendos e lucros maiores.
Nestes termos, no século XXI, a Internet das coisas (5G), o desenlace das energias fósseis (diesel, gasolina, querosene, etc.) e a expansão da suatentabilidade como nas energias limpas e renováveis ou máquinas menos poluentes como carros elétricos ou híbridos (com motores a combustão e elétricos), tende a reorganizar mais uma vez a posição dos países na DIT.
A Ford como pioneira na indústria automobilística global, agora não é a primeira a investir em tecnologias eficientes e renováveis, mas após ver que dezenas de concorrentes asiáticas e europeias se estabeleceram, age com a ideia da Mais-Valia Global: busca novos mercados consumidores, menores custos operacionais e expansão no mercado global. Por isso deixar as fábricas “analógicas” focadas em veículos de combustão no Brasil não é agradável aos brasileiros pelo desemprego e fim dos tributos recolhidos. Mas pelo liberalismo econômico, mobilidade dos capitais transnacionais e da própria globalização, trata-se de uma decisão de fácil entendimento: Ela vai onde o lucro está!
O clima político, polarizado e crise econômica no Brasil que geram insegurança institucional desde 2015 e queda do poder de compra nacional vão persistir por mais alguns anos e quem quer ser parte continua do comércio global de veículos, não pode esperar. Logo, países que têm maior estabilidade política e visão progressista com abertura maior as tecnologias e ciências são naturalmente o destino promissor. Por sorte da Ford e da Argentina, ali na Terra Platina, já há uma base industrial mais tecnológica e de fácil adaptação as exigências de conectividade e sustentabilidade, e pelos acordos comerciais do Mercosul e facilidade de exportações devido os avanços da globalização, principalmente nos transportes e tecnologias cada dia mais baratos e eficientes, a Ford vai se manter competitiva no comércio global de veículos.
Já ao Brasil, enquanto houverem negacionistas teocráticos insistindo em um governo eclesiástico, obscurantista e mortal que prioriza armas ao invés de vacinas, que protege familiares e milícias enquanto é inimigo das Universidades, Cientistas e dos Professores, criadores e multiplicadores das tecnologias e do desenvolvimento, nos resta apenas ficar cada dia mais periféricos, subdesenvolvidos, empobrecidos e distantes da cidadania global.
E não é apenas a federação que passa insegurança e instabilidade. Neste 2021 quando o Estado de São Paulo elevou o ICMS de automóveis, principal mercado do Brasil, o faturamento e rentabilidade das montadoras veiculares ficou ameaçado. Como as projeções levam o atual governador a disputa e talvez presidência em 2023, o tributo mais pesado pode ser nacional.
_______________________________________
As opiniões expressas neste artigo são de responsabilidade do autor (a) e não refletem necessariamente a política editorial do Fronteira Livre