O plano de saúde Prevent Senior realizou um estudo para testar o uso de hidroxicloroquina, associada à azitromicina, para tratar a covid-19. Em um dossiê, recebido pela CPI da Covid e divulgado pela GloboNews, há indícios que a empresa escondeu mortes de pacientes que receberam o tratamento.
Segundo a GloboNews, a Prevent Senior divulgou que duas pessoas morreram durante o uso da medicação. Na planilha, constam nove mortes.
O estudo recebeu o apoio do presidente Jair Bolsonaro (sem partido), que chegou a fazer publicações nas redes sociais para exaltar o uso do medicamento, que não tem eficácia contra a covid-19. Defensores da cloroquina também usaram a pesquisa como argumento.
À GloboNews, um médico da Prevent Senior afirmou que o estudo foi manipulado para tentar provar que a cloroquina era eficaz contra a covid. O resultado, segundo o médico, já estava pronto mesmo antes do fim do estudo.
A pesquisa começou a ser feita em 25 de março de 2020. Em mensagens divulgadas pela emissora, o diretor da empresa, Fernando Oikawa, orienta os médicos a não informar as famílias sobre a medicação. “Iremos iniciar o protocolo de HIDROXICLOROQUINA + AZITROMICINA. Por favor, NÃO INFORMAR O PACIENTE ou FAMILIAR, (sic) sobre a medicação e nem sobre o programa”
Mortes de pacientes
No total, nove pessoas que participavam do estudo morreram. Entre elas, seis estavam no grupo que tomou hidroxicloroquina associada à azitromicina. Dois estavam no grupo que não recebeu os remédios. Sobre o outro paciente que morreu, não há informações se ele foi medicado ou não.
A informação inicial era de duas mortes de pessoas com covid-19 que tomaram cloroquina. O primeiro documento publicado sobre o estudo foi em 15 de abril de 2020, um pré-print, ou seja, uma versão inicial que ainda precisa de revisão.
Na publicação, o coordenador do estudo, o cardiologista Rodrigo Esper, diretor da Prevent, diz que as duas mortes de pessoas medicadas foram provocadas por outras doenças e não há qualquer relação com a covid ou com as medicações.
“Não houve efeitos colaterais graves em pacientes tratados com hidroxicloroquina mais azitromicina. Dois pacientes do grupo de tratamento morreram durante o acompanhamento; a primeira morte foi devido à síndrome coronariana aguda e a segunda morte devido a câncer metastático.”, descreve Esper no pré-print.
No entanto, segundo as informações adquiridas pela GloboNews, entre as vítimas não há ninguém com as doenças mencionadas.
Apoio de Bolsonaro
Três dias depois, em 18 de abril, o presidente Jair Bolsonaro postou elogios ao estudo no Twitter.
“Segundo o CEO Fernando Parrillo, a Prevent Senior reduziu de 14 para 7 dias o tempo de uso de respiradores e divulgou hoje, às 1h40 da manhã, o complemento de um levantamento clínico feito: de um grupo de 636 pacientes acompanhados pelos médicos, 224 NÃO fizeram uso da HIDROXICLOROQUINA. Destes, 12 foram hospitalizados e 5 faleceram. Já dos 412 que optaram pelo medicamento, somente 8 foram internados e, além de não serem entubados, o número de óbitos foi ZERO. O estudo completo será publicado em breve!”, escreveu o presidente na ocasião,.
O que diz a Prevent Senior
Em nota enviada à GloboNews, a Prevent Senior negou as denúncias se afirmou que está tomando medidas para investigar quem “está tentando desgastar a imagem” da empresa.
A companhia afirmou que os números estão à disposição da CPI da Covid e disse que os médicos sempre tiveram a autonomia respeitada.