Por Rafael Clabonde – Opinião
Até o Dia Nacional da Agroecologia (03.10), uma série de matérias tratando de experiências agroecológicas no estado do Paraná.
Durante toda esta semana estaremos trazendo matérias aqui no Portal, a partir da Série “Agroecologia Paranaense”, que se trata de um desdobramento da Coluna Social Memórias Iguaçuenses (Para ler), iniciada com publicação onde citamos dentre outros fenômenos que ocorreram na região oeste do Paraná, o sistema de Obrages, com pesada mão estrangeira segundo definição do Ex-Prefeito iguaçuense Perci Lima, na obra “Foz do Iguaçu e sua História” de 2001:
“(…) eram empresas argentinas, que representavam geralmente os capitalistas ingleses, que se estabeleciam em território brasileiro, principalmente no estado do Paraná, com a finalidade única de explorar nossas reservas florestais de madeira e erva-mate para o estabelecimento do mercado platino.”
Segundo mesma fonte, esta pratica cruel se registra em terras brasileiras por volta de 1881, tinha por base a exploração das nossas riquezas naturais gigantescas, e “(…) também o homem, até a sua exaustão.”. Ainda mais surpreendente é notar que em pleno Século XXI, ainda temos no país as recorrentes denuncias de trabalho escravo, realidade da qual me aproximei quando participei em 2007 da Pesquisa Juventudes Sul-americanas (1), realizada no Brasil pelo Ibase em parceria com o Instituto Pólis e apoio do International Development Research Centre (IDRC).
Fui um dos 960 jovens entrevistados conjuntamente com especialistas em juventude, durante este importantíssimo estudo que ocorreu aqui, mas também na Argentina, Uruguai, Paraguai, Chile e Bolívia, onde ali pude conhecer um pouco da dura realidade enfrentada pelos trabalhadores cortadores de cana do estado de São Paulo (Ver relatório de pesquisa), rostos e corpos tão desgastados pela árdua jornada, em meio a um processo que segue provocando inclusive mortes por cansaço no campo!
Ao ouvir falar de trabalhadores do campo, o que associo à esta categoria é: “Educação”. Foi participando do Movimento Estudantil, onde pude contribuir conforme já relatado, mas também ali aprendi a (re)conhecer à grandeza dos movimentos sociais da luta pela terra, bravamente construída por agricultores, e seus filhos, que buscam caminhar com pernas próprias, construindo instituições que em parceria com o poder público, fazem do Paraná uma referência nacional em Educação do Campo.
Hoje (25), ao lançarmos “Agroecologia Paranaense”, falaremos um pouco sobre a Escola Latino Americana de Agroecologia (ELAA), que assim como a Escola Municipal e Colégio Estadual (foto acima), encontram-se na Lapa, cidade histórica do Paraná fundada em 1769, palco de importantes batalhas da Guerra (1912-1916) que batiza o Assentamento “Contestado”, onde estão instaladas estas verdadeiras raízes propulsoras de saberes populares, e conhecimento técnico científico especializado no sistema agroecológico.
A ELAA é de iniciativa da Via Campesina, uma articulação nascida no Fórum Social Mundial de Porto Alegre (FSM 2005) entre camponeses de todos os continentes do mundo, tendo esta experiência educativa, agroecológica e de integração entre os povos que já dura 15 anos, em pleno solo fértil das Araucárias e Gralhas Azuis – mas estas, agora protagonizam menos nas matas, e cada vez mais nos apelos para chamam atenção para sua ameaça de extinção (Ver material analítico sobre desmatamento no Paraná).
A foto de capa (a que esta ao lado, é autoria de Ligia Krelling) que atrai os olhares dos leitores para este lançamento, é da Formatura de 45 educandos e educandas do Brasil, Paraguai, Bolívia, Argentina, Chile e Republica Dominicana ocorrida no ano passado, e que segundo o Site da Escola (2), fazem parte de “17 movimentos sociais, que veem na agroecologia um contraponto ao agronegócio. Partindo da necessidade de formação técnica em agroecologia, a Via Campesina, através da ELAA no Brasil, buscou construir uma parceria com o IFPR (Instituto Federal do Paraná), PRONERA (Programa Nacional de Educação da Reforma Agrária) para em 2015 dar início a IV turma de Tecnólogo em Agroecologia.”, como aponta texto do jornalista Antonio Kanova.
Estiveram presentes autoridades governamentais, parlamentares em âmbito estadual e do município lapeano, com participação de agentes educacionais do IFPR, incluindo o Reitor Odacir Zanatta, que na oportunidade reforçou comprometimento com a continuidade de oferta do curso em questão, e do outro que compõe a Escola: Licenciatura em Educação do Campo, Ciências da Natureza e Agroecologia.
Ainda com base no que dizem sobre si mesmos, podemos notar o quão diferenciado é o caráter deste projeto inovador:
“A Escola funciona no sistema de alternância – o que significa que o estudante passa um período em sua comunidade e outro período na Escola, para que possa experienciar o conhecimento adquirido junto com sua comunidade e para que os cursos atendam à demanda de várias regiões. Sendo assim, os cursos na ELAA são intensivos e os educandos moram na escola durante o período de aulas – por isso a ELAA conta com estrutura de refeitório e alojamento.“.
Esta construção coletiva reforça aos sujeitos históricos do campo envolvidos, sua condição enquanto sujeitos de direitos (3), envolvendo assim mulheres, homens e crianças, com experiências como a “Ciranda Curupiras”, onde se pensa até mesmo a Educação Infantil, etapa fundamental na formação de identidades e personalidade, com os pequenos gigantes aprendendo desde cedo o respeito à natureza.
Por fim, destacamos um ponto fundamental, onde as raízes paranaenses da agroecologia vão para além do plantar e cuidar da terra, como nos trás Edson Rodrigues dos Santos, em estudo sobre o “Sistema intensivo de suínos criados ao ar livre – SISCAL. A Experiência da Escola Latino Americana de Agroecologia”, afinal, somos feitos daquilo que comemos, e por tanto, é primoroso também este cuidado na criação dos animais que são consumidos pelo homem.
Até o fim da nossa pequena “Jornada” online Agroecológica, que termina no próximo sábado, 3 de Outubro – “Dia Nacional da Agroecologia”, buscaremos trazer novamente a ELAA, tentando analisá-la através de outros prismas, e a partir de comparação com sua ideia original, onde o projeto abarcava ainda, outra unidade na Venezuela que também se consolidou, tratando-se da IALA Paulo Freire (Instituto de Agroecologia Latino-Americano). Existem outros IALAs: o Guarani no Paraguai, um no Chile voltado para as mulheres e outro ainda na Colômbia – além de experiências no Equador, Guatemala e Argentina.
Amanhã, dando continuidade a Série “Agroecologia Paranaense”, falaremos um pouco sobre a nossa primeira PARCEIRA da Coluna Social “Memórias Iguaçuenses”, e da página no Facebook “Memórias Paranaenses” (@memoriaspr).
Partimos da revolucionária Lapa localizada na região metropolitana de Curitiba, para chegarmos à Foz do Iguaçu (1914), mais precisamente na região do santuário ecológico Parque Nacional do Iguaçu (1939), na sua vizinha, a Pousada Agroecológica Guata Porã.
Para conhecê-la um pouco mais:
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3- Nesta mesma publicação (link), MARQUE 1 pessoa por comentário! *podendo comentar quantas vezes quiser, aumentando as chances.
SORTEIO:
03.10 (Sáb)
17h
via LIVE pela Página “Memórias Paranaenses”
Boa sorte!
(1) www.polis.org.br/p-palavras-chave/pesquisa-juventudes-sul-americanas/page/3/
(2) www.elaa.redelivre.org.br/2019/05/06/via-campesina-forma-tecnologos-e-tecnologas-em-agroecologia/
(3) www.chegadetrabalhoinfantil.org.br/tira-duvidas/o-que-voce-precisa-saber-sobre/quem-e-considerado-sujeito-de-direito/
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