Por Rafael Clabonde – Opinião
Pantera Negra, Guairacá, Dumont, Bertoni e Kid Chocolate, nomes de um mesmo enredo: as trajetórias da memorável Foz do Iguaçu!
Assim como as fontes utilizadas para chamarem sua atenção, com destacadas capas de jornais incluindo uma bem expressiva e característica deste riquíssimo documento histórico que é o “Nosso Tempo” (www.nossotempodigital.com.br) – do qual falaremos em publicação futura especificamente – esta Coluna busca atrair olhares para temáticas ainda pouco (des)envolvidos no âmbito da historiografia local.
Fontes históricas causam uma busca incessante, e narrativas iguaçuenses provocam verdadeiro encantamento aos olhos de quem vê, é este o sentimento que me fez reescrever a primeira publicação, simplesmente porque ela sairia no dia 24 de Setembro, quando há exatamente 96 anos em Foz do Iguaçu, chegava o primeiro grupo daqueles que segundo Luiz da Costa era “de revolucionários, da conhecida Revolução Paulista, por sob o comando o militar Juarez Távora”¹, e vinham sentido à estratégica região de fronteira com a Argentina (e Paraguay), país que poderia servir de rota para possível fuga caso fosse necessário.
Aqui neste espaço trataremos com carinho de variados processos como este, onde a cidade iguaçuense então recém fundada em 1914 como “Vila do Iguassú”², fora demarcada pelos militares revoltosos como ponto de encontro, entre o grupo de tenentes paulistas que chegou na primavera de 1924, e aguardava a Divisão do Rio Grande³, comandada por Luís Carlos Prestes.
Trata-se de desdobramentos do movimento tenentista de 1922, e embora tenha sido no mesmo ano em que se traduz para o português “O Manifesto Comunista” (K. Marx e F. Engels), foram as mobilizações tupiniquins que influenciaram o jovem Prestes de então 26 anos, para anunciar a ruptura com seus comandantes, como aponta Emerson Dias sobre o levante: “O manifesto gaúcho eclodiu em Santo Ângelo e se estendeu por São Borja e São Luiz”.
Era um caminho sem volta…
A já chamada “Coluna Paulista”, enfrentaria duras batalhas no interior do Paraná, e sua saga custaria muitas baixas à tropa, mas deixaria belas vitórias marcadas na história do militarismo brasileiro, como podemos notar na própria versão do Exército Brasileiro, afinal, estes são fatos inquestionáveis, os tenentistas com bravura e expulsando inimigos pelo caminho, chegaram na mesma terra das Cataratas do Iguaçu, que já era registrada desde 1542 pelo espanhol Álvaro Nuñes Cabeza de Vaca.
Sim, a nossa embranquecida História, reivindica suas figuras de herança principalmente religiosa, militar, e dos demais poderes hierárquicos vigentes, seja no período do Império Português (Séculos XVI-XVIII?), ou da transição do Império Brasileiro supostamente “independente”, para a instaurada República em 1889.
Mas ao tratarmos dos jovens militares revolucionários, também nos colocamos nas disputas do campo historiográfico, se somando aos esforços de quem busca dar visibilidade as mais variadas facetas de distintos sujeitos históricos. E a magia é que na temporalidade os personagens se alteram, pois somente após sua saída de Foz em 1925 já como “Coluna Prestes”, que Luís Carlos começa uma verdadeira epopeia por liberdade que o tornaria também conhecido, como “Cavaleiro da Esperança” – até Paulo da Portela imortalizaria em forma de Samba o apelido “herdado” (“Prestes Cavaleiro da Esperança” (1946)).
Conforme já adiantado nesta Coluna Social, as “Memórias Iguaçuenses” tem muitas particularidades e versões, a dos vencedores e de vencidos são duas delas, uma vez que ao chegarem na fronteira os rebelados, todo um sistema local de poder foi colocado em cheque, algumas poucas autoridades não fugiram para Puerto Iguazu-ARG, e dentre as poucas mortes registradas na tomada da cidade, esta uma personalidade jurídica do Ministério Público do Paraná (MP-PR), este órgão oficial também tem sua versão da chegada tenentista:
“O anúncio da presença do inimigo em direção a Foz, provocou pânico geral, com a população abandonando a cidade às pressas e atravessando o rio de canoa, para alcançar as margens da Argentina e do Paraguai. Franklin de Sá Ribas era promotor de Foz do Iguaçu, elevada a condição de comarca em 1917.”
A morte de Franklin não apaga o brilhantismo da Coluna, nem a elaboração topográfica deixada como legado, já que estamos falando do hoje “Destino do Mundo” em pleno Século XXI, mas que no inicio de sua trajetória urbana tinha suas estradas de acesso, sendo na verdade carreiros de terra, expressando ser um dos últimos rincões brasileiros que estava sendo ocupado, fato que se deu de forma militarizada, justamente devido as disputas de terras com os países vizinhos, e a forte presença estrangeira na região, que incluso pertencia em grande medida ao Paraguay, antes da Grande Guerra (ou Genocídio se preferirem) de 1864-1870.
Falaremos futuramente algo que também já pode ser notado nesta largada, o fato de que um registro jornalístico pode tornar-se documento histórico. Foi assim com a foto de Harry Schinke, que somada ao depoimento do então, Bispo da Diocese de Foz do Iguaçu Dom Olívio Aurélio Fazza, ajudaram à desmentir versão oral transmitida na tentativa de culpar os revoltosos da Coluna Prestes, pelo incêndio na Igreja São João Batista que fora provocado pelas comemorações após a partida guerrilheira.
E assim começamos uma nova jornada, buscando também depoimentos, fotos, e toda colaboração que puder surgir desta relação iniciada, sou Rafael Clabonde (foto abaixo) e deixo por fim algumas perguntas indagantes e apenas uma afirmação mais: como viveu Olívia Probost de Sá Ribas, viúva do Promotor assassinado às margens do Rio Paraná? Quem foram os mortos da Companhia Matte Laranjeiras? Você conhece algum trabalhador liberto do sistema de Obrage? Ah, você sabe como funcionava este processo cruel de escravismo na exploração madeireira e da erva mate?
Sei é que, há cada 10 dias estaremos abrindo um leque ainda maior de perguntas, e revendo assim muitas respostas tidas como questões “fechadas”, e que precisamos seguir debatendo. Gostou do que leu? Nos acompanhe, ajude divulgando, se some ao projeto. Gratidão!
Ao dispor. E boas leituras!
Fontes
http://www.memorial.mppr.mp.br,
http://www.blogdefoz.blogspot.com,
http://www.consuladodaportelasp.com.br,
http://www.repositorio.ufsc.br,
https://www.facebook.com/espacodobarrageiro,
http://www.facebook.com/memoriaspr
Referências Bibliográficas
¹COSTA, Luiz Alberto Martins da. Calendário Histórico de Toledo – Cronologia de Fatos, Registros e Curiosidades da História do Município de Toledo. Toledo: Gráfica & Editora GFM, 2009. p. 210
²LIMA, Perci. Foz do Iguaçu e sua História. Foz do Iguaçu: 2001. p. 31
³DIAS, Emerson. REGISTROS FOTOGRÁFICOS DO MOVIMENTO TENENTISTA EM FOZ DO
IGUAÇU (1924-1925) – Ver mais.
?DORÉ, Andréa; LIMA, Luís; SILVA, Luiz. Facetas do Império na História: Conceitos e métodos. São Paulo: Ed. Hucitec, 2008. p. 13
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