Por Marco Roberto de Souza Albuquerque
Comentários a propósito do vídeo “CPI, esqueça negacionistas e siga o dinheiro”, do canal Fala, M.R.
Um recurso originalmente pensado para dar transparência às decisões no Congresso e aos julgamentos nos tribunais superiores — quiçá tenha servido, grosso modo, para enviesar a circunspecção dos ministros e alvoroçar a eloquência dos parlamentares. Pelo menos naquelas ocasiões em que — sabe-se lá por quê — as porcas, dizem, torcem o rabo.
Lembremo-nos do que foi a transmissão — ao vivo e em cores! — daquele julgamento do habeas-corpus do Lula no STF em 2018, as eleições às portas, e o “partido militar” (pelo Twitter!) insinuando o pior.
E mais: diante das câmeras, não seria crível que cada um dos onze togados se supusesse uma celebridade — talvez até mesmo um herói, um paladino contra a corrupção?
Como se a ideologia lava-jatista, as filigranas do Direito, as pressões políticas e mesmo o risco de um golpe não bastassem para atrapalhar — permita-se-me o trocadilho — o juízo ainda que do mais competente juiz.
Numa CPI importante como a da Covid, não é diferente. Como se fosse pouco apurar a responsabilidade pela maior tragédia sanitária da história do Brasil — e ainda demonstrar quão corrupto e disfuncional é um Governo mancomunado com militares, conivente com milicianos e apoiado por fanáticos — os membros da Comissão ainda se veem diante das câmeras de uma das maiores atrações das redes sociais.
Como manter a postura investigativa em conformidade com a celeridade necessária para alcançar os resultados que efetivamente contam no processo — se cada senador se sente atraído pela oportunidade de tornar-se célebre (e amealhar votos) numa eleição que se avizinha?
Não se vá pleitear a suspensão das transmissões da CPI nem a extinção da TV Senado e suas congêneres. No entanto façamos saber aos integrantes da Comissão que é preciso concentrar os esforços nas investigações sobre a suspeita preferência do Governo pela vacina indiana.
Há indícios de que, mais do que a intenção de alimentar o fanatismo dos apoiadores com a anuência à “imunidade de rebanho”, programa ideado pelo Gabinete das Sombras — a tardança em negociar com a Pfizer tinha outra motivação: fechar com um esquema de corrupção montado por um empresário com experiência em ilicitudes na área da saúde.
Afinal, por que negociar direto com o fabricante, se se pode recorrer a um atravessador — e, claro, gastar mais dinheiro público?
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