A era do líder consciente?

Foto: Reprodução

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O consultor Raj Sisodia diz que os gestores devem se preocupar menos com o lucro – e mais com todo o resto. É possível?

Coloque o resultado financeiro do negócio em segundo plano. A ordem, direcionada a empresários e CEOs, é, no mínimo, esquisita. Mas resume o que prega o capitalismo consciente, um conceito que começou nos Estados Unidos e se tornou conhecido no Brasil em 2013, com o livro Capitalismo Consciente (ed. HSM), de autoria do consultor indiano Raj Sisodia e do americano John Mackey, fundador da rede Whole Foods. No dia 20 de agosto, foi realizado em São Paulo o primeiro CEO Summit sobre o tema, com a presença de Raj Sisodia, que também é o criador do Instituto Capitalismo Consciente. Em entrevista à NEGÓCIOS, o consultor  afirma que a primeira preocupação de um gestor deve ser o bem-estar de todos os envolvidos em seu negócio – funcionários, clientes, fornecedores. “Se tiver de sacrificar algum dos valores da empresa, sacrifique os números, para proteger as pessoas”, diz ele. Em outubro deste ano, Sisodia lança seu oitavo livro, Everybody Matters (“Todo mundo importa”).

O capitalismo consciente incentiva as empresas a priorizarem práticas que façam bem para a sociedade – um trabalho que começa com os  gestores

Segundo o indiano, o lucro deve ser uma consequência do trabalho realizado por pessoas saudáveis e motivadas. Uma ideia bonita para o discurso. Na prática, porém, é difícil sustentar o risco. Segundo Sisodia, a mudança de mentalidade já está em curso, em empresas como BMW, Google, Starbucks e nas brasileiras Natura e Embraer. Mas não acontecerá do dia para a noite. “As empresas vão experimentando o conceito em determinadas áreas”, afirma. “Ao longo de alguns anos, podem ver que é possível colocar a gestão toda sob esse modelo.”

A seguir, as atitudes de um gestor consciente, segundo Sisodia.

1. Prioriza (de fato) as pessoas
A intenção primeira de uma empresa alinhada ao conceito do capitalismo consciente é gerar impactos positivos para a humanidade. “A começar pelos funcionários”, afirma o indiano. “Uma empresa comprometida com um bem maior tende a atrair fornecedores também alinhados com seus valores e que, portanto, prestam serviços de alta qualidade.” Essa qualidade atrairia, finalmente, os clientes, gerando lucro para a companhia.

2. Foca-se no longo prazo – e não no bônus anual
Um gestor consciente sabe aonde quer chegar ao longo de uma ou várias décadas. “Ele se certifica de que suas decisões não trarão consequências negativas para as pessoas e para o meio ambiente no longo prazo”, afirma Sisodia. Essa consciência inclui tarefas corriqueiras, como não espremer demais os fornecedores em negociações. “Esse líder busca negociar em condições justas para todas as partes, ainda que ganhe um pouco menos do que poderia se só estivesse preocupado com o próprio benefício.”

3. Concilia traços masculinos e femininos
Os atributos de um gestor consciente estão alinhados ao que apontam as teorias de liderança difundidas na última década: já não bastam as velhas conhecidas características da gestão por comando e controle – comumentemente associadas a um perfil masculino. Agressividade na busca por resultado, capacidade de enfrentar situações difíceis e objetividade nas negociações. É preciso aliar a estas características traços considerados femininos, como compaixão, cuidado com os outros e intuição. “Os líderes precisam unir a inteligência sistêmica à inteligência emocional”, diz o indiano.

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