No início da tarde de ontem, 25/02, durante ato em homenagem às 272 vítimas do rompimento da barragem da Vale em Brumadinho, familiares clamaram contra o pedido de habeas corpus (HC) do ex-presidente da mineradora, Fabio Schvartsman, que tenta o trancamento do processo contra ele.
A data de ontem marcou 5 anos e 1 mês da tragédia-crime sem que a justiça tenha sido feita. Até agora, nenhum dos 16 réus citados na ação penal foi a julgamento e Schvartsman ainda pode deixar de ser réu caso o Tribunal Regional de Justiça (TRF) acate o HC. No último dia 13 de dezembro, o relator do processo, Flávio Boson Gambogi, deu parecer favorável ao ex-CEO e o julgamento do HC está marcado para recomeçar no dia 6 de março.
Além de homenagear as 272 vidas perdidas e pedir justiça, o ato de ontem clamou pelo encontro de Tiago Silva, Maria Bueno e Nathália Araújo, três vítimas ainda não localizadas; memória; direito dos familiares e não repetição do crime.
“Há 5 anos e 1 mês continuamos sufocados pela lama de sangue, indignação e revolta. Nossa dor poderia ter sido evitada com ações de empatia, solidariedade e amor ao próximo. Os comandos da empresa sabiam do risco do rompimento. O então presidente da Vale também tinha sido alertado. Se tivesse contratado a empresa certa para atestar o laudo de segurança da barragem, não estaríamos aqui. Quando nos perguntam se não está na hora de parar de lutar por justiça, vem um sentimento de indignação. Nós não vamos parar! Que a justiça dos homens seja feita”, disse Maria Regina da Silva, que perdeu a filha Priscila Elen Silva, que trabalhava na Vale como técnica em manutenção.
Durante a fala de Maria Regina, também foram citados os nomes de todos os réus e, para cada um, os presentes responderam: “assassino (a)”.
Fabio estava no comando das decisões
Segundo investigações oficiais, Fabio Schvartsman e demais réus sabiam do risco de rompimento da barragem em Brumadinho e nada fizeram. De acordo com o delegado da Polícia Federal (PF), Cristiano Campidelli, responsável pelas investigações que levaram à denúncia contra os réus, ainda é possível afirmar com segurança que Schvartsman estava presente em um painel onde houve uma discussão sobre a estrutura que colapsou. Além da PF, a apuração feita por duas CPIs (Comissão Parlamentar de Inquérito) e da polícia civil mineira também concluíram que os réus sabiam dos riscos.
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“Está chegando a data da votação do habeas corpus do Fábio Schvartsman. Isso mais parece uma brincadeira, mas acreditem, não é! A pergunta é: por que o presidente da empresa, que tomou posse com o slogan ‘Mariana Nunca Mais’, não tem responsabilidade sobre a empresa que ele presidia?! Como explicar aquele e-mail que ele recebeu de um funcionário, dizendo que ele, presidente, precisava se ater às barragens que estavam no limite. E que ele fez? Simplesmente ordenou uma caçada ao remetente. Para ele era inconcebível um funcionário qualquer falar da empresa. Ainda se referiu ao funcionário como um ‘cancro’, ou seja, para ele quem fez a denúncia era um câncer dentro da empresa, e precisava ser banido. A sua resposta nos mostra como sua gestão era completamente descomprometida com a vida. Segundo as investigações, provavelmente, esse funcionário estava entre as 272 vítimas perdidas na barragem, ou seja, está morto”, disse Kenya Paiva Lamounier, que perdeu o marido Adriano Lamounier na tragédia-crime.
Homenagens com balões e chamada
Além de pedir por justiça, durante a solenidade, houve um momento religioso de fé e esperança, e às 12h28, horário que a barragem rompeu no dia 25 de janeiro de 2019, os familiares deram as mãos, rezaram o “Pai Nosso” e fizeram a soltura de 272 balões em homenagem às vítimas – 3 balões em formato de estrela representavam vítimas que ainda não foram encontradas, 269 balões coloridos simbolizaram os já identificados. No final do ato, feito a chamada de todos os nomes das 272 vítimas, e para cada um deles, os familiares fizeram o grito de “presente”.