Durante uma palestra memorável, o ex-presidente uruguaio José Mujica foi calorosamente ovacionado pelos estudantes que lotaram um anfiteatro e até mesmo um estacionamento vizinho, onde seu discurso foi transmitido por telão. Com humildade, Mujica deixou claro desde o início: “ninguém é melhor que ninguém”.
Aos 80 anos, ele destacou que sua presença ali não era para buscar aplausos, mas para “acender o pavio da militância pelas causas nobres”. Mujica incentivou os jovens a não só sonharem, mas também a lutarem por um futuro melhor, criando “ferramentas políticas de compromisso coletivo”. Ele os exortou a cometerem seus próprios erros, em vez de repetirem os da geração dele.
O ex-guerrilheiro, que sobreviveu a ferimentos de bala e 14 anos de prisão durante a ditadura uruguaia, advertiu os estudantes a desconfiarem daqueles que são obcecados pelo dinheiro e a buscarem valores que superem a posse material. Em sua visão, a atual civilização “não tem consciência, tem caixa-forte”.
Recebendo o prêmio Personalidade Sul 2015 no Rio de Janeiro, Mujica destacou que o maior problema da América Latina é a desigualdade. Ele também lamentou a falta de união entre as forças políticas de esquerda e os países do continente, enfatizando a importância de pensar como uma espécie, e não apenas como nações isoladas.
Ao abordar temas como a redução da maioridade penal e a descriminalização da maconha no Brasil, Mujica foi enfático. Ele não considera a redução da maioridade penal um caminho ideal, especialmente na América Latina, onde as prisões são “universidades do crime”. Sobre a maconha, ele esclareceu que no Uruguai foi regulada, não legalizada, ressaltando que, apesar de ser importante tirar o consumo da clandestinidade, “nenhuma dependência é boa, exceto a do amor”.
Mujica, com sua habitual sabedoria e simplicidade, deixou uma marca profunda na audiência, que o ouviu atentamente e se inspirou em suas palavras.