A desobediência de uma costureira chamada Rosa Parks mudou o mundo

Seis décadas atrás, uma costureira estava sentada no banco de um ônibus na cidade de Montgomery, no Alabama, lugar onde a vida das pessoas era ditada por leis de segregação racial. Sim: leis!

Foto: Reprodução

Uma delas dizia que as primeiras filas dos ônibus eram reservadas para passageiros brancos. Negros eram obrigados a usar assentos destinados específicos, no fundo do ônibus. Ninguém contestava. Brancos e negros. Ninguém dava um pio. “Assim é a vida”, pareciam dizer uns aos outros e para si mesmos.

Rosa Parks, a costureira, um dia pensou diferente.

Voltando do trabalho, cansada e meio de saco cheio, ela fez o impensável: sentou em um dos bancos da frente do ônibus que tomava todo santo dia. Em um lugar reservado para brancos.

Em uma das paradas, três negros entraram no ônibus e viram a cena inusitada. Fizeram o mesmo. Sentaram ao redor dela. Não trocaram uma palavra. Apenas olhares e sorrisos, como se fossem todos cúmplices de uma brincadeira. Mal sabiam os quatro que a História da Humanidade estava prestes a mudar em poucos minutos…

Em outra parada mais adiante, algumas pessoas – brancas – entraram no ônibus e ficaram horrorizadas com a cena. Percebendo o que estava acontecendo, o motorista gritou para que Rosa e outros três negros saíssem dos bancos para dar lugar aos novos passageiros, todos brancos. Os três negros levantaram com um sorriso no rosto, como se fossem garotos que tivessem sido pegos fazendo uma traquinagem que eles mesmos sabiam que não duraria muito. Eles saíram e se encaminharam ao fundo do ônibus.

Menos Rosa.

Ela continuou sentada, olhando pela janela, como se nada estivesse acontecendo. Foi advertida e ofendida por alguns minutos que pareceram horas, mas ela simplesmente não levantou. Continuou sentada onde estava, impávida, como um rainha que sabia que aquele trono lhe pertencia.

Foi detida, fichada e levada para a prisão.

Quando a história se espalhou pela cidade, aconteceu outro fato impensável. Todos os milhares de habitantes negros da cidade – todos, sem exceção! – passaram a boicotar todos os ônibus de Montgomery e seus arredores. Durante semanas foi possível ver filas de pessoas nas calçadas das ruas e na beira das estradas indo e voltando de seus respectivos trabalhos. A pé. Os ônibus vazios. Boicote total!

Então a onda se espalhou pelas cidades vizinhas.

Pessoas negras passaram a fazer o mesmo. Nada de ônibus. Logo, o ato passou a ocorrer em algumas cidades de outros Estados. Os brancos se desesperaram. Os donos das empresas de ônibus pressionaram os políticos e estes pressionaram a polícia. Era preciso libertar Rosa antes que a coisa se alastrasse. Assim foi feito, mas era tarde demais.

Rosa Parks, sem querer, se tornou o maior símbolo na luta contra o racismo nos Estados Unidos, que culminou na década seguinte na criação das Leis dos Direitos Civis. A vida dos cidadãos negros melhorou. Ainda hoje acontecem turbulências por conta da disparidade social nos Estados Unidos, mas nada que se compare à humilhação que sofriam no passado.

Sempre digo que as grandes mudanças são desencadeadas por pequenos atos. Pense nisso…

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*R-Tadeu é Jornalista, crítico musical, produtor e pesquisador

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