Entrevista: Profº Jorge Bernardi

Fruet mantém “caixa preta” e 300 cargos para atender políticos

Jorge Bernardi está no quinto mandato de vereador em Curitiba. É ficha limpíssima.

Coerente, colocou sempre a cidade e sua população na linha frente de suas propostas, depois de 28 anos no PDT, do qual se desligou para entrar agora na Rede, de Marina Silva. É um dos primeiros paranaenses a aderir à sigla da sustentabilidade.

Nesta entrevista a seguir, ele faz pesadas críticas à Prefeitura, fala de “caixa preta” da administração municipal, que condena também por estar mantendo 300 cargos na Secretaria de Governo preenchidos para atender exclusivamente a políticos. Alerta para o que chama de crescente endividamento da cidade.

1 – Por que você escolheu a Rede?

R – Porque a Rede mudou o paradigma da política tradicional brasileira: conservadores x liberais, esquerda x direita, capital x trabalho, que moveu os movimentos políticos nos séculos XIX e XX. Agora a luta é outra, a REDE está além das ideologias, tendo o ser humano como protagonista, a vida o planeta. Identifiquei-me com o manifesto e o programa da Rede.

O Prefeito poderia ter extinto 300 cargos em Comissão que estão na Secretaria de Governo e servem apenas para nomeações políticas, a um custo anual de mais de 40 milhões de reais.”

2 – Quem ou o que o levou a Marina e à Rede?

R – A questão da sustentabilidade na amplitude do conceito: ambiental, social, econômica, política e muito mais. As relações em Rede, horizontal, um partido em que todos são consultados, não há um chefe que manda e desmanda.

3 – Quais as linhas básicas de atuação que a Rede escolheu para o Paraná?

R – A Rede está se estruturando em todo o estado do Paraná, com lideranças que se identificam e aceitam o seu programa e manifesto. A Rede faz uma avaliação de todos os políticos que exercem ou exerceram mandato ou ocuparam cargos públicos, e só são aceitos os que não tem ou tiveram problemas com a Justiça. O objetivo é disputar eleições, oferecer uma opção nas eleições em todos os níveis.

4 – Há posições definidas pela Rede de Curitiba com relação ao prefeito Fruet e a Prefeitura? E o que a levou a tais definições?

R – A Rede tem posição e faz uma oposição responsável a administração. Não uma oposição raivosa, simplesmente por sua oposição. Muito membros da Rede de Curitiba, inclusive eu, e a nossa líder nacional, Marina Silva, apoiaram o Prefeito na eleição de 2012. Confesso, por mim, que a decepção tem sido grande e isto foi também um dos fatores que me fizesse deixar o PDT depois de 28 anos. As desculpas da crise econômica não se justificam mais. Aqui na Câmara abrimos, na CPI do Transporte Coletivo que eu presidi, a caixa preta da URBS, promessa de campanha do Prefeito.

Apontamos inúmeras irregularidade, crimes, e encaminhamos sugestões ao Executivo que quase nada fez, mantendo o “status quo” de décadas. Algo aconteceu com a Administração Municipal que não enfrentou os poderosos. A tarifa continua superfaturada, em mais de 40 centavos, tirando milhões reais todos os anos dos mais pobres. E assim tem ocorrido em outras áreas. O Prefeito poderia ter extinto 300 cargos em Comissão que estão na Secretaria de Governo e servem apenas para nomeações políticas, a um custo anual de mais de 40 milhões de reais.

“O Prefeito poderia ter extinto 300 cargos em Comissão que estão na Secretaria de Governo e servem apenas para nomeações políticas, a um custo anual de mais de 40 milhões de reais.“

“Na Rede só são aceitos os que não tem ou tiveram problemas com a Justiça. O objetivo é disputar eleições, oferecer uma opção nas eleições em todos os níveis.”

5 – A Rede de Curitiba está com você. Parabéns ao partido. Mas quem mais vai participar da legendas, aqui e no Estado?

R – Professor Aroldo, como disse a Rede é um partido horizontal, eu sou um militante da causa da sustentabilidade, com mandato. As decisões são colegiadas, buscamos sempre o consenso progressivo, evitando, quanto possível, as disputas que causam cizânia. No Paraná temos já o deputado federal Aliel Machado, de Ponta Grossa, que foi vereador e presidente da Câmara de Ponta Grossa. Ele tem apenas 26 anos e já é uma liderança.

Temos 23 vereadores, em cidades importantes como Maringá, Ponta Grossa,  Paranaguá, Fazenda Rio Grande, Piraquara, Palmas entre outros.

“…A tarifa continua superfaturada, em mais de 40 centavos, tirando milhões reais todos os anos dos mais pobres. E assim tem ocorrido em outras áreas. O Prefeito poderia ter extinto 300 cargos em Comissão que estão na Secretaria de Governo e servem apenas para nomeações políticas, a um custo anual de mais de 40 milhões de reais.”

6 – Você sabe, melhor que ninguém, que o PT e companhias foram uma amarga experiência para a população de Curitiba. Assim, os eleitores da Rede poderão esperar que posição do partido em defesa da cidade, sem levar mais em conta a cartilha petista?

R – Sim. Mesmo quando estava no PDT já em 2014 defendia o afastamento do PT. Há muitas pessoas honradas e bem-intencionadas no Partido dos Trabalhadores, porém lideranças importantes do partido cometeram muitos erros, não só administrativos, mas principalmente políticos e de corrupção a nível nacional.

Na Rede há pessoas oriundas de vários partidos e muitas que nunca se filiaram a partido algum, pois acreditam na causa. Para Curitiba estamos propondo uma administração diferente do que temos visto nos últimos anos, de austeridade e eficiência na administração, capacitação dos servidores públicos, de combate aos cartéis que dominam a prestação de serviços públicos, e inovadora, para que a cidade volte a ser protagonista como foi no passado.

“Ano que vem Curitiba vai gastar R$ 4 bilhões com pessoal, 47 %, de um orçamento de 8,750 bilhões, onde se deve tirar R 1,5 bilhão do transporte coletivo e outro R 1,5 bilhão da saúde. O orçamento efetivo do município é de R$ 5,75 bilhões. Ou seja, Curitiba tirando os recursos do transporte coletivo e da saúde que entram no orçamento, gasta quase 70 % do que arrecada com pessoal. Isto tem que mudar.”

7 – Cite cinco metas para a questão da sustentabilidade – ambiental, humana, cultural, etc. – que a Rede tem para Curitiba.

R – A sustentabilidade deve permear todas as áreas de vida urbana, no meu ponto de vista deve ser assim:

a) Cidade Saudável, onde a saúde pública seja prioridade atendendo desde a gestação a velhice, envolvendo o saneamento ambiental, habitação, o trânsito urbano, os modais de mobilidade, recuperação de áreas degradadas, e os espaços de lazer e os hábitos alimentares e esportivos.

b) Cidade Protegida, com ênfase a segurança solidária, onde os aparatos de segurança, público e privados trabalham em conjunto com ações sociais e a participação da comunidade.

c) Cidade Inteligente, com ênfase na educação para produzir uma economia cada vez mais voltada ao saber, a produção de novos bens, com menor poluição e mais voltada a criatividade.

d) Cidade Cultural, em que as manifestações culturais serão valorizadas, propondo ênfase a economia criativa e solidária, em áreas como artesanato, gastronomia, moda, literatura, fotografia, música, design, publicidade artes cênicas e outras.

e) Cidade Policêntrica e compacta, e que cada bairro tenha seu centro de serviços públicos, de comércio e de lazer. Em que os deslocamentos possam ser realizados a pé, evitando o uso de outras formas de mobilidade, principalmente as poluidoras. Trabalho, educação, equipamentos e saúde e de lazer estejam próximas dos locais de moradia.

8 – Como ser fiel aos propósitos da Rede sem cair em concessões populistas ou dobrar a coluna às visões de uma direita anticristã, no definir políticas públicas para Curitiba?

R – Tendo princípios e não abdicar dos mesmos. Fazendo uma nova política voltada para o bem comum, pensando além de nós, além dos séculos. Com uma administração austera e eficiente, com planos e metas definidas, com o equilíbrio das contas públicas, com o planejamento de curto, médio e longo prazo definindo prioridade aos setores mais necessitados não com práticas paternalistas, mas libertadoras. Entendo que a administração deve ter por princípio cortar áreas supérfluas, aplicar o dinheiro público depois de arrecadar e sempre gastar menos do que arrecadar. Concluir as obras inacabadas.

9 – Em que medida a Rede volta-se para a sucessão de Fruet? Tem candidatos a candidato?

R – A Rede deverá ter candidatura própria a Prefeitura de Curitiba, como uma chapa consistente a Câmara Municipal. Também teremos candidatos em várias capitais e nas principais cidades do Paraná. Há nomes que iremos oferecer a comunidade no tempo oportuno.

10- Dos nomes já citados como postulantes a suceder Fruet, quais se alinham mais próximos da Rede?

R – Deveremos ter candidatura própria. A eleição, pelas pesquisas, deverá ter dois turnos, e esperamos estar no segundo turno. Como dizia um grande líder trabalhista do passado, como locomotivas vamos puxar os vagões.

11 – Qual a maior falha da atual administração municipal?

R – No meu ponto de vista, distanciou-se da população. Utilizou-se das práticas da velha política, de conseguir apoio através de cargos públicos. Não enfrentou os problemas que afligem a população como saúde, mobilidade urbana e segurança. Gasta mais do que arrecada, fazendo com que a administração perca a credibilidade. A dívida flutuante, de curto prazo, em 31 de julho, já era de R$ 600 milhões, a dívida fundada (de longo prazo), mas de R$ 1.100 bilhão. Ano que vem Curitiba vai gastar R$ 4 bilhões com pessoal, 47 %, de um orçamento de 8,750 bilhões, onde se deve tirar R 1,5 bilhão do transporte coletivo e outro R 1,5 bilhão da saúde. O orçamento efetivo do município é de R$ 5,75 bilhões. Ou seja, Curitiba tirando os recursos do transporte coletivo e da saúde que entram no orçamento, gasta quase 70 % do que arrecada com pessoal. Isto tem que mudar.

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