Um conto sobre a liberação das amarras sociais

"Os dezembros da minha vida" retrata a jornada de quatro jovens gays no sul da Bahia na década de 1970 em busca de autoaceitação.

“Os dezembros da minha vida”, de Pedro Lopes, é uma narrativa poderosa que explora o impacto devastador de negar a própria identidade em um contexto de opressão social. Ambientado na fictícia cidade de Itamarã, no sul da Bahia, durante a década de 1970, o livro acompanha a jornada de quatro jovens gays – Carlos, Roberto, Elias e Abraão – que vivem sob o peso de um pacto silencioso: esconder suas orientações sexuais para se protegerem do preconceito e conservadorismo da época.

Ao perceberem que suas sexualidades estão sendo alvo de fofocas na cidade, os amigos decidem adotar comportamentos que simbolizem uma masculinidade heteronormativa, tentando a todo custo despistar as suspeitas da população. Essa estratégia, porém, os leva a situações de autonegação e sofrimento, como frequentar prostíbulos, embriagar-se e participar de brigas, tudo para sustentar uma fachada que lhes é imposta.

Narrado por Carlos em forma de diário, o livro oferece um mergulho íntimo nas dores e sacrifícios desses jovens, expondo as angústias de viver no armário e os esforços para atender às expectativas sociais. O enredo, profundamente realista, é inspirado nas experiências pessoais do autor e dá voz às batalhas internas que muitos leitores LGBTQIAP+ podem reconhecer. A história aborda temas como paixões reprimidas, casamentos de conveniência e até tentativas de suicídio, ressaltando o custo de viver uma vida de mentiras.

Apesar de sua carga emocional intensa, “Os dezembros da minha vida” é, acima de tudo, uma celebração do direito à felicidade e à autenticidade. Pedro Lopes, em sua estreia na ficção, não só traz à tona as dificuldades enfrentadas por pessoas LGBTQIAP+, mas também levanta a bandeira da liberdade, incentivando todos a se libertarem das amarras sociais e a lutarem por um reconhecimento genuíno. Em um mundo que ainda tenta silenciar vozes autênticas, o livro é um chamado à coragem e à autoaceitação, lembrando que, embora a sociedade possa impor barreiras, a busca pela verdadeira identidade e felicidade é um direito inalienável.

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