Biografia: Simone de Beauvoir

Embora não se considerasse uma filósofa, De Beauvoir teve uma influência significativa tanto no existencialismo feminista quanto na teoria feminista.

Parisiense, nascida em 9 de janeiro de 1908, Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir, mais conhecida como Simone de Beauvoir foi uma escritora, intelectual, filósofa existencialista, ativista política, feminista e teórica social francesa. 

Nascida em Paris, era a primogênita de duas irmãs, filha de um casal descendente de famílias tradicionais, porém decadente. Seu pai era o advogado Georges Bertrand de Beauvoir, ex-membro da aristocracia francesa, enquanto a mãe era Françoise Brasseur, membro da alta burguesia francesa. Ela estudou em uma escola católica privada até os 17 anos. Depois de passar no vestibular de matemáticae filosofia, acabou por estudar matemática no Instituto Católico de Paris e literatura e línguas no colégio Sainte-Marie de Neuilly, e em seguida, filosofia na Universidade de Paris (Sorbonne), onde conheceu outros jovens intelectuais, como Maurice Merleau-Ponty, René Maheu e Jean-Paul Sartre, com quem manteve um relacionamento aberto por toda a vida.

De Beauvoir escreveu romances, ensaios, biografias, autobiografia e monografias sobre filosofia, política e questões sociais. Ela é conhecida por seu tratado O Segundo Sexo, de 1949, uma análise detalhada da opressão das mulheres e um tratado fundamental do feminismo contemporâneo, além de seus romances A Convidada e Os Mandarins. Ela lecionou em várias instituições escolares no período entre 1931 a 1943. Nos anos 1940 ela integrava um círculo de filósofos literatos que conferiam ao existencialismo um aspecto literário, sendo que seus livros enfocavam os elementos mais importantes da filosofia existencialista. Além disso, a autora esteve envolvida, juntamente com Sartre e Foucault, no polêmico manifesto “A Idade da Razão” que tinha por objetivo retirar a idade mínima para consentimento em relações sexuais.

A autora revela certa inquietação diante do envelhecimento e da morte em livros como Uma Morte suave BRA ou Uma morte serenaPRT, de 1964. Em A Cerimônia do Adeus, de 1981, ela narra o fim da existência de seu companheiro Sartre, que havia morrido em 15 de abril do ano anterior. Ela faleceu em 14 de abril de 1986, aos 78 anos de idade, por conta do agravamento de uma pneumonia. Seu corpo foi enterrado no Cemitério de Montparnasse, no mesmo túmulo de Sartre.

Juventude

Simone de Beauvoir era a mais velha das únicas duas filhas de Georges Bertrand de Beauvoir, um advogado em tempo integral e ator amador, e Françoise Brasseur, uma jovem de Verdun. Nasceu em Paris como Simone (então um nome pomposo que seu pai gostava)-Lucie (sua avó materna)-Ernestine (seu avô paterno, Ernest-Narcisse)-Marie (pela Virgem Maria) Bertrand de Beauvoir (ela foi orientada enquanto criança a dar seu nome como simplesmente “Simone de Beauvoir”). Era uma criança atraente, mas mimada, teimando em obter o que queria, tendo sido o centro das atenções da sua família. A mãe não foi uma grande costureira, e as roupas que costurou eram mal ajustadas. Ao crescer, Beauvoir não tinha amigos além da irmã Poupette, que era dois anos e meio mais nova e de quem ela era próxima.

Nº 24 da rua Cels, em Paris, onde de Beauvoir viveu durante a guerra. Em 1909, o avô materno de De Beauvoir, Gustave Brasseur, presidente do Banco Meuse, faliu, jogando toda a sua família na desonra e pobreza. Georges não recebeu o dote devido, por casar-se com Françoise, e a família teve que se mudar para um apartamento menor. Ele então teve de voltar ao trabalho, embora isto não lhe agradasse. A família lutou durante toda a infância das meninas para manter seu lugar na alta burguesia, e Georges dizia frequentemente: “Vocês, meninas, nunca se vão casar, porque vocês não terão nenhum dote”.

De Beauvoir sempre esteve consciente de que seu pai esperava ter um filho, ao invés de duas filhas. Ele afirmava, “Simone pensa como um homem!” o que a agradava muito, e desde pouca idade a filósofa distinguiu-se nos estudos. Georges passou seu amor pelo teatro e pela literatura para sua filha. Ele ficou convencido de que somente o sucesso acadêmico poderia tirar as filhas da pobreza. (Hélène tornou-se uma pintora.)

Educação

A autora tornou-se uma adolescente desajeitada, dedicada completamente aos livros e à aprendizagem, e preferiu ignorar os desportos porque ela não era nada atlética. Ela e sua irmã foram educadas no Institut Adeline Désir, ou Cour Désir, uma escola católica para meninas, algo que era desprezado pelos intelectuais da época. As escolas católicas para meninas eram vistas como lugares onde as jovens aprendiam uma das duas alternativas abertas às mulheres: casamento ou um convento. Sua mãe, que Simone considerava uma intrusa espiando cada movimento seu, frequentava as aulas com elas, sentada atrás das meninas, como se esperava que a maioria das mães fizessem. Lá, a filósofa conheceu sua melhor amiga, Elisabeth Le Coin (ZaZa nas suas memórias), que influenciou de forma definitiva a personalidade de Simone.[20] Simone adorou a escola e se formou em 1924 com “distinção”.

Pantheon de Paris. Aos 15 anos de idade, De Beauvoir já havia decidido que seria uma escritora. Jacques Champigneulle tornou-se seu mentor intelectual e amigo, aquele que sua mãe esperava que iria se casar com ela. Geraldine Paro (GéGé) e Estepha Awdykovicz (Stépha) tornaram-se suas amigas.

Depois de passar no vestibular em matemática e filosofia, estudou matemática no Instituto Católico de Paris e literatura e línguas no colégio Sainte-Marie de Neuilly (outra escola católica), e em seguida, filosofia na Universidade de Paris (Sorbonne). Em 1929, quando na Sorbonne, a autora fez uma apresentação sobre Leibniz. Lá, ela conheceu muitos outros jovens intelectuais, incluindo Maurice Merleau-Ponty, René Maheu  e Jean-Paul Sartre. Enquanto na Sorbonne, Maheu deu a de Beauvoir o apelido que lhe acompanharia ao longo da vida, Castor, dado a ela por causa do forte trabalho ético do animal. Em 1929, com 21 anos de idade, a filósofa se tornou a pessoa mais jovem a ser aprovada no Agrégation em filosofia, e a nona mulher a obter este grau. No exame final, ficou em segundo lugar; Sartre, com 24 anos de idade, foi o primeiro (ele havia sido reprovado em seu primeiro exame). O júri do Agrégation discutiu sobre a possibilidade de dar a Sartre ou a Beauvoir o primeiro lugar na competição. No final, o concederam a Sartre.

Sua amizade com Elizabeth Mabille (“Zaza“) foi abruptamente rompida com a morte precoce de Zaza. Simone narrou esse episódio de sua vida, posteriormente, em seu primeiro livro autobiográfico, Memórias de uma moça bem-comportada, em que critica os valores burgueses.

Principais obras

Residência onde de Beauvoir viveu em Paris de 1955 até a sua morte, em 1986.

As suas obras oferecem uma visão sumamente reveladora de sua vida e de seu tempo. Em seu primeiro romance, A convidada (1943), explorou os dilemas existencialistas da liberdade, da ação e da responsabilidade individual, temas que abordou igualmente em romances posteriores como O sangue dos outros (1944) e Os mandarins (1954), obra pela qual recebeu o Prêmio Goncourt e que é considerada a sua obra-prima.

As teses existencialistas, segundo as quais cada pessoa é responsável por si própria, introduzem-se também em uma série de quatro obras autobiográficas, além de Memórias de uma moça bem-comportada (1958), destacam-se A força das coisas (1963) e Tudo dito e feito (1972).

Entre seus ensaios críticos cabe destacar O segundo sexo (1949), uma profunda análise sobre o papel das mulheres na sociedade; A Velhice(1970), sobre o processo de envelhecimento, onde teceu críticas apaixonadas sobre a atitude da sociedade para com os anciãos; e A cerimônia do adeus (1981), onde evocou a figura de seu companheiro de tantos anos, Sartre.

Sartre e de Beauvoir sempre liam o trabalho do outro. Ainda há um debate sobre a medida em que um influenciou o outro em suas obras existencialistas, como O Ser e o Nada, de Sartre, e A Convidada, de De Beauvoir. No entanto, estudos recentes focam o trabalho da escritora em outras influências além de Sartre, como Hegel e Leibniz.

A Convidada

De Beauvoir publicou seu primeiro romance, A Convidada, em 1943. A obra é uma crônica ficcional sobre o relacionamento sexual que ela e Sartre mantiveram com as irmãs Olga e Wanda Kosakiewicz. Olga era uma de suas alunas na escola secundária em Ruão, onde De Beauvoir lecionou. Ela se apaixonou por Olga. Sartre tentou persuadir Olga, mas ela negou interesse, então ele começou um relacionamento com sua irmã, Wanda. Até sua morte, Sartre ainda sustentava Wanda. Ele também sustentou Olga durante anos, até que ela conheceu e casou-se com Jacques-Laurent Bost, amante de De Beauvoir.

O romance metafísico A Convidada foi seguido por muitos outros, incluindo O Sangue dos Outros, que explora a natureza da responsabilidade individual, contando uma história de amor entre dois estudantes franceses jovens que participam da resistência francesa na Segunda Guerra Mundial.

Les Temps modernes

No final da Segunda Guerra Mundial, De Beauvoir e Sartre editaram o Les Temps modernes, uma revista política que Sartre fundou, juntamente com Maurice Merleau-Ponty e outros. De Beauvoir usou a Les Temps modernes para promover seu trabalho e explorar suas ideias em pequena escala antes de criar seus primeiros ensaios e livros. De Beauvoir permaneceu como editora da publicação até sua morte.

Ética existencialista

Em 1944, de Beauvoir escreveu seu primeiro ensaio filosófico, Pirro et Cineas, uma discussão sobre a ética existencialista. Ela continuou sua exploração do existencialismo no seu segundo ensaio, A Ética da Ambiguidade, (1947), que talvez seja a entrada mais acessível para o existencialismo francês, visto que sua simplicidade deixa a obra compreensível. No ensaio, de Beauvoir apura algumas inconsistências que muitos, incluindo Sartre, têm encontrado nas principais obras existencialistas, como em O Ser e o Nada. Em A Ética da Ambiguidade, de Beauvoir enfrenta o dilema existencialista da liberdade absoluta ante as restrições das circunstâncias.

Sair da versão mobile