Biografia: Du Bois

Reconhecido como um dos maiores sociólogos e ativistas americanos desde a virada do século XX até sua morte nos anos 60

Foto: Divulgação

Nascido em Great Barrington em 23 de fevereiro de 1868, William Edward Burghardt “W. E. B.” conhecido como Du Bois foi um sociólogo, historiador, ativista, autor e editor. Du Bois cresceu em uma comunidade relativamente tolerante e integrada. Casou-se com Nina Gomer em 1896, com quem teve dois filhos: Burghart e Yolanda. Um ano depois da morte de Nina, casou-se com Shirley Graham.

Du Bois recebeu um diploma em 1888 pela Universidade Fisk, e um segundo diploma pela Harvard em 1890. Depois de dois anos de estudo na Universidade de Berlim, recebeu seu Ph.D (título de doutor) pela Harvard em 1895.

W.E.B. Du Bois foi um autor prolífico, que publicou mais de vinte livros ao longo de sua vida. Além das publicações acadêmicas, escreveu novelas e poesia. Foi também um ativista ferrenho da justiça social e racial. Ele foi o principal fundador do “Movimento Niagara”, no qual exercia a função de Secretário Geral. No mais, fundou o National Association for the Advancement of Colored People(NAACP), exercendo a função de Presidente do Conselho por muitos anos. Combateu abertamente questões da sua época como linchamentos, discriminação e exploração colonial, também foi o líder mundial do movimento pan-africano, servindo como Secretário do Primeiro Congresso pan-africano. Tornou-se um socialista, e depois um comunista, que lutou pelos direitos das mulheres, dos judeus, e dos trabalhadores, podendo ser considerado como um dos arquitetos do movimento dos direitos civis. Fundou a American Black Academy, onde pode apoiar manifestações de arte e cultura.

Du Bois ganhou proeminência nacional como líder do Movimento do Niagara, um grupo de ativistas afro-americanos que lutavam por direitos iguais para os negros. Du Bois e seus defensores se opuseram ao Compromisso de Atlanta, um acordo elaborado por Booker T. Washington que versava que os negros do sul trabalhariam e submeter-se-iam às regras políticas dos brancos, enquanto os brancos do Sul garantiriam que os negros recebessem oportunidades educacionais e econômicas básicas. No entanto, Du Bois insistiu na determinação de plenos direitos civis e aumento da representação política dos negros, que ele acreditava que seria reivindicada pela elite intelectual afro-americana. Ele referiu-se a este grupo como o décimo talentoso e acreditava que os afro-americanos necessitavam de chances para ter uma formação avançada e desenvolver sua liderança.

O racismo foi o principal alvo das polêmicas de Du Bois, tendo protestado fortemente contra o linchamento, leis de Jim Crow e discriminação na educação e no emprego. A sua causa incluiu pessoas de cor em todos os lugares, especialmente africanos e asiáticos em suas lutas contra o colonialismo e o imperialismo. Ele era um defensor do pan-africanismo e ajudou a organizar vários Congressos Pan-Africanos para defender a libertação das colônias africanas das potências europeias. Du Bois fez várias viagens para a Europa, África e Ásia. Após a Primeira Guerra Mundial, ele pesquisou as experiências dos soldados negros americanos na França e documentado intolerância generalizada nas forças armadas dos Estados Unidos.

Du Bois foi um autor prolífico considerado o pai do pan-africanismo. Sua coleção de ensaios, As Almas da Gente Negra (The Souls of Black Folk), foi um trabalho seminal na literatura Africano-Americana; e seu magnum opus de 1935, A Reconstrução Negra na América(Black Reconstruction in America) desafiou a ortodoxia dominante de que os negros eram responsáveis pelos fracassos da era da Reconstrução dos Estados Unidos. Ele escreveu o primeiro tratado científico no campo da Sociologia; e publicou três autobiografias, cada qual contendo ensaios perspicazes sobre Sociologia, Política e História. Em seu papel como editor do jornal da NAACP, A Crise (The Crisis), publicou muitas peças influentes. Du Bois acreditava que o capitalismo era a principal causa de racismo, e era geralmente solidário com os socialistas ao longo de sua vida. Ele era um ativista ardente da paz e defendeu o desarmamento nuclear. A Lei dos Direitos Civis dos Estados Unidos, incorporando muitas das reformas para que Du Bois tinha defendido toda a sua vida, foi promulgada um ano após sua morte.

William Edward Burghardt Du Bois nasceu em 23 de fevereiro de 1868, em Great Barrington, Massachusetts, filho de Alfred e Mary Silvina Burghardt Du Bois. A família de Mary Silvina Burghardt fazia parte da pequena população de negros livres de Great Barrington. O bisavô materno de William Du Bois, Tom Burghardt, foi um escravo nascido na Africa Ocidental por volta de 1730. Tom serviu o exercito na Revolução Americana, o que pode ter dado sua liberdade. O bisavô paterno de Du Bois foi James Du Bois, de origem franco americana, de Poughkeepsie, New York, e teve vários filhos com escravas. Um dos seus filhos era Alexander, que viajou para o Haiti, e teve um filho, Alfred, que se mudou para os Estados Unidos um pouco antes de 1860, e se casou com Mary Silvina Burghardt em 1867, em Housatonic, Massachusetts. Alfred deixou Mary em 1870, dois anos depois do nascimento de William. Sua mãe trabalhou para sustentar a família, recebendo alguma ajuda de seu irmão e seus vizinhos.

A comunidade de Great Barrington tratou Du Bois ligeiramente bem. Ele frequentou a escola pública local e manteve relacionamento com colegas brancos. Professores encorajaram sua carreira intelectual, e quando Du Bois decidiu entrar na faculdade, a congregação da igreja que frequentava enquanto criança doou dinheiro para as despesas de seu ensino. Mesmo assim, o racismo que ele experimentou nesse contexto foi objeto de seus artigos e de suas obras, e seu sucesso com os estudos acadêmicos o fez usar seu conhecimento para empoderar os afro-americanos.

Dependendo do dinheiro doado, Du Bois frequentou a Fisk University, uma faculdade historicamente negra em Nashville, Tennessee, de 1885 a 1888. Sua viagem e residência no Sul foi sua primeira experiência com o racismo sulista, o que englobava Jim Crowlaws, atos de intolerância e linchamentos. Depois de receber seu diploma na Fisk, Du Bois frequentou Harvard College de 1888 a 1890, onde ele foi extremamente influenciado por seu professor William James, uma figura proeminente na filosofia americana. Em 1890, Du Bois recebeu seu Segundo diploma, cum laude, em História pela Harvard. Em 1891, Du Bois recebeu uma bolsa de estudos para frequentar o curso de graduação em Sociologia, também pela Harvard.

Em 1892, Du Bois recebeu uma bolsa da John F. Slater Fund for the Education of Freedmen para frequentar a Universidade de Berlin. Ele amadureceu intelectualmente enquanto estudava com alguns dos mais proeminentes cientistas sociais, como Gustav von Schmoller, Adolph Wagner em Heinrich von Treitschke. Depois de retornar da Europa, Du Bois completou sua graduação, e em 1895 ele se tornou o primeiro afro-americano a receber um Ph.D. da Harvard University.

Ao ingressar em Harvard, em 1895, para fazer o PhD, Du Bois passa a dividir ideias referentes ao status social dos negros com outros acadêmicos e profissionais afro-americanos, fazendo reuniões que visavam determinar objetivos para melhorar as condições de vida desse grupo social. Essas reuniões passaram a se desenrolar e em 1905, Du Bois, seus colegas e vários outros ativistas dos direitos civis afro-americanos se reuniram para escrever uma declaração de princípios que levou o grupo passou a ser conhecido como “Movimento de Niagara”.

Encontros como esses, formados por pessoas negras, eram condenáveis na América, o que implicava uma serie de riscos. Mesmo assim, as assembleias seguiram, e o grupo escreveu uma proclamação demandando o direito de votar, bem como outros direitos que pertenciam aos americanos nascidos livres. Mesmo durando apenas alguns anos, a organização representou um papel importante na conquista da igualdade racial e Du Bois teve papel central na organização do movimento, assim como das demandas civis que eles pretendiam alcançar.

Em 1909, Du Bois esteve entre os fundadores da NAACP (National Association for the Advancement of Colored People). Dezenas de defensores dos direitos civis, tanto negros quanto brancos, participaram da fundação da associação, entretanto, a maioria dos diretores eram brancos. Durante os anos de 1910 e 1934, Du Bois foi diretor de pesquisa e publicidade, membro do corpo de diretores, e editor da revista “A Crise”, revista mensal da associação.

O seu dever assumido, a partir do posto de diretor de pesquisa e publicidade, passou a ser a edição da revista mensal da NAACP, denominada A Crise (The Crisis). A primeira edição surgiu em novembro de 1910, e Du Bois afirmou que o seu objetivo era estabelecer “esses fatos e argumentos que mostram o perigo de preconceito racial, nomeadamente no que se manifesta hoje em relação às pessoas de cor”. A revista era composta por dois componentes principais: de um lado, protesto e do outro um princípio de reerguimento moral. Assim, ao mesmo tempo que estava protestando, igualmente estava buscando construir uma consciência. Na revista, Du Bois direcionou comentários aos americanos brancos, ao mesmo tempo servindo de fonte de informação e orgulho aos afro-americanos. O protesto racial durante a década seguinte a I Guerra Mundial focou-se em garantir uma legislação anti-linchamento. Durante esse período, a NAACP era a organização líder de protesto e Du Bois era a sua figura representativa. A revista “A crise” empenhou uma movimento importante de combate ao racismo, empreendendo tal campanha contra o linchamento e Du Bois utilizando seu papel influente na associação para se opor a uma variedade de incidentes racistas.

Como Du Bois mudou-se com 17 anos para o Tennessee para ir a faculdade, ele percebeu a diferença entre os negros do sul e do norte: a vida no sul era muito mais dura do que onde ele crescera. Assim, ele percebe que as pessoas não conseguiram progredir desde a proclamação da emancipação, e o fato das pessoas serem livres não transformou as suas vidas. Esse foi um motivo para que no início do século XX ele apoiasse a grande migração de negros do sul dos EUA para outras regiões do pais que vinha acontecendo. Diante desse contexto, Du Bois escreveu um editorial apoiando essas migrações, porque ele acreditava que seria melhor que os negros escapassem ao racismo do Sul, encontrando melhores oportunidades econômicas e assimilando a sociedade norte-americana.

Também na década de 1910 o movimento eugenista americano estava nascendo, e muitos eram abertamente racistas, definindo os negros como “uma raça inferior”. Du Bois se opõe a esta visão como uma aberração não científica.

Du Bois é considerado o patrono do pan-africanismo, movimento político e cultural que lutava tanto pela independência dos países africanos do jugo colonial quanto pela construção da unidade africana. Pelo fato de Du Bois ser uma das primeiras lideranças a adotar com veemência um discurso de orgulho racial e de volta às origens negras é considerado da mesma maneira, o pai simbólico do movimento de tomada de consciência de ser negro.

Du Bois teve grande importância na consolidação desse movimento uma vez que o I Congresso Pan-africano foi organizado sob sua liderança, em Paris. Foi ele também quem organizou os quatro seguintes Congressos Pan-africanos.

A ideologia pan-africanista surgiu como um sentimento solidário e como consciência de uma origem comum entre os negros de todo o mundo.

Ao longo de sua carreira, Dubois teve um embate de extrema relevância com Booker T. Washington, o qual se caracteriza, em sua essência, pela oposição entre o Movimento de Niagara e o Compromisso de Atlanta. Ambos os autores eram negros e buscavam formas de melhorar as condições de vida dos afro-americanos, entretanto divergiam em seus princípios e formas de atuação, tendo suas diferenças ressaltadas em relação à aceitação, por parte de Washington, com a segregação racial nos Estados Unidos, por exemplo.

W.E.B. Du Bois, por volta de 1905, se filiou às doutrinas socialistas, entrando no partido socialista em 1912. Ele se manteve simpático às ideias marxistas pelo resto de sua vida. Du Bois inseria o problema do negro na teoria socialista comum. Ele questionava, por exemplo, se os objetivos do socialismo poderiam negligenciar a questão racial, tendo sempre em vista que nenhum grave problema humano pode esperar por ajuda. O sociólogo defendia que nenhuma minoria, como é a negra, deve ser excluída da questão socialista. Para Du Bois, os socialistas geralmente enfatizavam muito a questão da classe trabalhadora como a maioria que sofre com a distribuição desigual de renda, mas não costumavam focalizar ou integrar a pauta racial. Afinal, a essência da Social Democracia é que não deve existir classes excluídas e exploradas no Estado socialista.

Desse modo, ele criticava algumas teorias socialistas, a partir da constatação de como elas tratavam o problema do negro e da exclusão social. Afinal, um Estado socialista não poderia valer-se da opressão de seus cidadãos para garantir seu poder. A partir dessas premissas, Du Bois opunha-se à posição de alguns americanos, especialmente do sul, que se negavam a conferir ao negro o status de homem. Qualquer experiência socialista, pois, seria difícil frente a tamanha segregação ou preconceito.

Du Bois acreditava que o significado de raça nunca poderia se limitar às diferentes características físicas de cada um; antes, transcendia esse critério. Na verdade, a herança social seria o que realmente distinguiria a raça negra. Du Bois julgava ser incontestável que a humanidade estaria dividida em raças, especialmente quando tinha como exemplo o país em que morava, os EUA. Para ele, a importância da existência de diferentes raças levou a história a ser uma história de grupos, e não de indivíduos. Definir, pois, o que é raça, corresponde a um papel muito importante para entender a própria história, em sua concepção.

Frente a inúmeras tentativas de definir o que é raça, por diferentes critérios, Du Bois tenta conceituá-la. Raça é, para ele, portanto: “um vasto grupo de seres humanos, geralmente de sangue e língua comuns, tradições e impulsos, que estão, voluntariamente e involuntariamente, empenhando-se juntos para a realização de determinados ideais de vidas concebidos mais ou menos intensos” (tradução livre). É importante dizer, também, que, para ele, o conceito de raça é um conceito dinâmico, e não estático, e as diferentes raças continuam mudando, se desenvolvendo, e se diferenciando… Nenhuma distinção física realmente explicaria ou definiria a coesão e continuidade desses grupos. As diferenças mais marcantes dentre as raças são espirituais e psicológicas. Como um ativista afro-americano, Du Bois acreditava que os negros ainda não tinham conseguido passar uma mensagem significante para o mundo, de sua existência, anseios e reivindicações, isso porque julgava que a raça negra não tinha conseguido se desenvolver como um grupo. Na verdade, se empenhar nessa tarefa de unir todos os afrodescendentes era um de seus desejos como ativista.

Certamente os rumos da vida de Du Bois influenciaram o seu trabalho acadêmico, principalmente a questão das diferenças entre o Sul e o Norte. Ele nasceu no Norte dos EUA e se mudou para o Sul para lá estudar. A discrepância em respeito ao tratamento dos negros constatada entre as duas regiões era grande. Enquanto no Norte ele era mais aceito socialmente, guardadas as devidas proporções, no Sul as condições enfrentadas pelos negros eram socialmente degradantes. No Sul, por exemplo, Du Bois constatou que, por leis ou por costumes, os negros não podiam votar, ou seus votos eram neutralizados por meio de fraude, eles viviam nos distritos menos desejáveis e estavam, em sua maioria, restritos a trabalhos menos qualificados, com salários mais baixos.

Além disso, era proibido o casamento inter-racial, a participação em igrejas, faculdades ou organizações culturais frequentadas por brancos, a acomodação em em hotéis, restaurantes ou qualquer lugar de entretenimento público. Os afro-americanos eram segregados em estações, em transportes públicos, mesmo tendo que pagar o mesmo preço pelos serviços, além de serem taxados por facilidades públicas que não podiam frequentar. No mais, tinham uma educação pública de péssima qualidade

Para Du Bois, o crime é um fenômeno da vida social organizada. É como uma rebelião de um indivíduo contra o ambiente social em que se insere. Ele, em todo seu trabalho como sociólogo e historiador, deixou-se influenciar pelas circunstância da vida do negro do seu próprio país, os Estados Unidos. O autor vê no desenrolar da história, a escravidão como o grande fenômeno capaz de depreciar o homem negro perante a sociedade da época. Os problemas enfrentados pela classe negra têm origens nas particularidades históricas e nas condições vividas pelo afrodescendente. Este foi libertado tardiamente, foi objeto de opressão, além de não ter oportunidades para atingir o desenvolvimento. Dessa forma, nasce uma classe de desapontados e desencorajados, em descompasso com a harmonia social.

A criminalidade negra deve ser vista na sua relação com a desigualdade de classe e com o racismo institucional, levando em conta efeitos negativos da segregação, da existência de guetos, das humilhações racistas e dos sistemas desiguais de justiça para brancos e negros. O ambiente social em que o negro é inserido tem grande influência na visão de mundo deles, na medida em que interiorizam a pretensa sensação de serem inferiores. Portanto, a base da diferença dos ambiente sociais dos negros e dos brancos é o sentimento disseminado de que o negro é algo a menos que o americano. Enquanto trabalhava na universidade de Atlanta, ele produziu trabalhos acadêmicos, entre eles The Philadelphia Negro em 1899, o primeiro estudo de caso de uma comunidade negra nos E.U.A. Na sua análise ele aponta o racismo como uma razão para várias mazelas dessa comunidade decorrente da sua marginalização. Nesse estudo, Du Bois trata sobre a criminalização dos negros.

Du Bois também apresentou soluções para lidar com o problema da criminalidade negra. Alguns exemplos são:

Para ele, a sentença de um homem em quase toda acusação não passava pela questão do crime em si , mas sim pela questão da cor do réu. Os negros olhavam as cortes como instrumentos de injustiça e opressão, e os condenados como mártires e vítimas. Nas sentenças dos tribunais, os ricos eram sempre favorecidos à custa dos pobres, e os brancos, à custa dos negros.

Du Bois acreditava que existiam dois tipos de justiça: uma para os brancos, outra para os negros. Isso, em conjunto com o fato de que juízes eram eleitos pelos votos de pessoas brancas, tornava muito difícil para um negro realmente obter uma sentença a seu favor quando seu oponente era branco. Como causa desse processo, pode-se elencar a existência de uma propensão por parte da polícia e dos juízes a presumir a culpa de um negro quando este era acusado de um crime.

Em relação às leis da época, Du Bois considerava que algumas delas (como de contratos trabalhistas, de vadiagem etc.) eram designadas a embaralhar e confundir os negros mais ignorantes e negligenciados, levando a sua degradação e punição injusta. As palavras complicadas, bem como as construções truncadas que não privilegiavam a clareza, serviam para perpetuar a insegurança dos negros frente às leis e ao modo como elas seriam aplicadas.

Du Bois é, certamente, mais conhecido pela sua luta a favor do movimento pan-africanista e pela luta contra o preconceito racial. No entanto, ele também defendia a emancipação feminina e a urgência da igualdade de direitos entre elas e os homens. Ele, até 1920, ano em que as mulheres conquistaram o direito de votar, escrevia sobre a importância do sufrágio feminino, combatendo preconceitos. Assim como considerava que a simples diferença de cor entre os homens não garantia a alguns maiores prerrogativas que a outros, a diferença entre os sexos não poderia ser fonte de discriminação.

Du Bois combatia a noção de a mulher ser o “sexo frágil”. Opunha-se a argumentos de que a mulher, quando casava-se, perdia sua individualidade como ser humano, dizendo que a mulher continuava uma pessoa com capacidades cognitivas e sentimentais como anterior ao casamento. Em 1915, Du Bois escreveu: “o significado do século XX é a libertação da alma individual” (tradução livre) quando se referia à subjugação da mulher pelo homem. O sociólogo e historiador mostra, assim, sua outra faceta de combate às repressões sociais.

Em Dogherty havia uma prisão. Segundo Du Bois, ela era descrita pelos sulistas como “repletas de negros criminosos”. Em contrapartida, a população negra dizia que apenas negros eram mandados para a prisão, não porque eram culpados, mas porque o Estado “precisava de criminais” para obtenção de renda mediante o trabalho forçado executado dentro das prisões.

Du Bois confirma a opinião da população local. De fato, o autor afirma que os campos da prisão eram cultivados por grupos de condenados,os quais contavam histórias de maus-tratos e crueldade. Os condenados só foram removidos depois da crise econômica.

Du Bois relata que população americana julgava moralmente os negros, os quais chamavam de preguiçosos ignorantes. Du Bois faz uma análise deste senso comum, cuja explicação está relacionada com a impossibilidade de progressão econômica. Para Du Bois, os negros passavam esta imagem aos americanos brancos porque eram improvidentes e descuidados. No entanto, trabalhavam arduamente em busca de sustento. Du Bois explica que eram improvidentes e pouco produtivos porque sabiam que todo o esforço seria em vão: o sistema econômico sob o qual viviam impediria, de qualquer forma, o progresso. Por outro lado, os proprietários sulistas argumentavam que a falta de progresso devia-se ao descaso e à indolência dos trabalhadores assalariados. Atribuíam a crise econômica à libertação dos escravos. Assim, Du Bois mostra como as visões antagônicas dos proprietários e dos trabalhadores reforçava uma distância social e cultural entre eles.

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