Biografia: Augusto César Sandino

Foto: Reprodução

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Líder de um exército popular, insurgente contra a submissão da Nicarágua, a opressão do povo e o imperialismo, Augusto César Sandino é uma das maiores referências de luta e resistência do seu país e da América Latina. Filho de um pequeno proprietário rural da região de Las Segovias, mestiço típico da América Central, o guerrilheiro nicaragüense foi assassinado há 71 anos, depois de libertar sua nação da invasão estadunidense. Em 21 de fevereiro de 1934, foi fuzilado pela oligarquia local e pelo imperialismo em operação comandada por Anastasio Somoza García, futuro ditador do país.

Nascido em 1895, em Niquinohomo, Sandino viveu na década de 20 na Guatemala e no México, onde afloraram suas preocupações políticas e o sentimento antiimperialista. Quando voltou para a Nicarágua, em 1926, montou um exército para expulsar as tropas dos Estados Unidos que estavam em seu país desde 1912. Durante sete anos, ocorreram conflitos em todo o território contra as tropas do governo local, fortemente apoiadas pelos estadunidenses. O movimento liderado por Sandino pretendia também promover importantes mudanças sociais e questionava o regime oligárquico do país. Em 1927, o governo dos Estados Unidos enviou aos rebeldes um ultimato para que desistissem da ofensiva, o que foi rejeitado por Sandino. Cinco anos depois, as tropas imperialistas começaram a abandonar o país. Como prometera desde o começo da insurreição, o revolucionário largou as armas logo após a saída do último soldado invasor.

Com a vitória, Sandino celebrou a paz com o governo nacional do presidente Sacaza. Logo após um encontro, foi seqüestrado com alguns companheiros e sumariamente fuzilado. Depois de 30 anos, seus ideais nacionalistas e antiimperialistas serviram de base para a Frente Sandinista de Libertação Nacional, que surgiu na década de 60 para derrubar a violenta dinastia dos Somoza, instaurada em 1937.

Da independência aos Somoza

A Nicarágua conquistou sua independência da Espanha em 1821, mas se tornou um Estado autônomo apenas em 1839. Em 1856, o país foi invadido pelos estadunidenses por ter uma localização considerada estratégica. Comandada pelo pirata William Walker, a operação contou com apoio do governo. Depois de se proclamar presidente, Walter foi derrotado no ano seguinte por uma coalizão de países da América Central.

Como os governos liberais eleitos não aceitavam mais as suas exigências, em 1912 os Estados Unidos invadiram novamente a Nicarágua e mataram o chefe do grupo, que governava desde 1893. Depois de colocar aliados no poder, os estadunidenses saíram do país em 1925 e, como o governo estava sendo derrubado, voltaram no ano seguinte. No entanto, dessa vez tiveram de enfrentar Sandino. Comandante de uma tropa popular de 3 mil homens, combateu um exército apoiado fortemente pelos Estados Unidos em todo o país e venceu a batalha.

Com o seu assassinato, Somoza tomou o poder. De maneira violenta e despótica, o ditador manteve na mão da elite o controle total da economia da Nicarágua. Depois de mais de duas décadas no comando, foi morto em 1956. Mesmo assim, a ditadura continuou com a substituição por seu filho e, depois, por seu neto, instaurando-se assim a dinastia dos Somoza no país.

Anastasio Somoza Debayle, neto do assassino de Sandino, chegou ao poder sustentado na repressão. Reprimiu os movimentos camponeses, colocou os sindicatos na ilegalidade e baniu os partidos de oposição.

A Frente Sandinista

Nesse contexto, ganhou força a Frente Sandinista de Libertação Nacional (FSLN), nascida em 1962. Anti-somozista e socialista, a organização se inspirava no pensamento nacionalista e antiimperialista de Sandino.

Depois do assassinato de Pedro Joaquin Chamorro, jornalista de oposição, aconteceram diversas manifestações populares, uma greve geral e luta armada. A partir daí, a FSLN passou a liderar a insurreição popular. Por causa das pressões, Somoza abandonou o país em 1979, dando fim a uma dinastia que deixou 50 mil mortos e assolou a Nicarágua por anos. A Revolução Sandinista estatizou as terras e as propriedades industriais da família Somoza (cerca de 40% do país), nacionalizou bancos e seguradoras, iniciou uma campanha de alfabetização e o processo de Reforma Agrária.

Foi criado um conselho de Estado pluralista, formado por todos os opositores da ditadura, que governou o país durante a transição política para o modelo democrático. Em 1984, o líder sandinista Daniel Ortega foi eleito com 60% dos votos. Na década de 80, os sandinistas foram vítimas de uma forte campanha do imperialismo liderada pelo presidente dos Estados Unidos Ronald Reagan (1981-1989). Guerrilheiros anti-sandinistas, conhecidos como “os contras”, foram recrutados na Guarda Nacional somozista e financiados pelos estadunidenses.

Derrota abalou os sandinistas

Depois de passar por um embargo econômico promovido pelos Estados Unidos nos anos 80, uma grande crise econômica e altos índices de inflação, os sandinistas perderam a eleição em 1990 para uma aliança opositora liderada por Violeta Barrios Chamorro, viúva do jornalista morto. Depois, o Partido Liberal Constitucionalista (PLC, de direita) chegou ao poder, permanecendo até hoje. No período, como aconteceu em toda a América Latina, foram implementadas na Nicarágua políticas neoliberais, que caminharam no sentido de desmontar as transformações da Revolução Sandinista.

Contra essas políticas, a FSLN ainda não conseguiu construir um programa político para enfrentar a corrente neoliberal. “Para uns, a derrota na eleição significou o aniquilamento das possibilidades de construir uma sociedade mais justa, o fim da utopia, e a partir dela começaria um ‘ajuste à realidade’; para outros, a derrota foi um revés no caminho da luta, não o fim das esperanças, da utopia ou das lutas pela construção de outro mundo possível”, diz Mónica Baltodano, militante da esquerda nicaragüense.

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